Sob a forma do silêncio
de Emanuel Madalena
Sobre o livro
«É poderosa a imagem com que Emanuel Madalena se apresenta, insinuando a poesia como modo de trocar "a modéstia da voz / pelo contrabando da língua". Tudo quanto é seguro é deixado fora da poesia. A estreia do poeta é a inauguração do perigo, proposta de uma angústia outra vez original.
Corajoso o regresso à "torre", tão elevado quanto cercado por seu ponto de vista, sem completude, apenas intensificação. Não há possibilidade de completude nem de sossego. Todos os planos serão um vício. E isso é imediatamente Wittgenstein, cuja pessoa e obra são o eixo de todo o livro. Wittgenstein é a afinação de cada verso, para a lucidez perante o fracasso e para o irresistível da amorosidade. Ele é a profunda intimidade do livro, convocando amantes, cúmplices, aludindo ao dia da morte, inscrevendo nos versos de Madalena a mesma folia pelo rigor de um pensamento que, afinal, conflitua sempre mais. Como uma matemática que se ramifica e complexica até ao infinito, na tremenda abstracção ou no já indizível, sem mais prova senão uma certa fé, um certo génio.
Maduríssimo primeiro livro, construído na ansiedade crítica do olhar "sob a forma do eterno". Se o poeta claudica entre erro e fracasso, seu sentido está em depurar, de tudo o que pode saber, o que é fantasia e o que sobra de verdade. Entre o vocábulo e o indizível, o poema é a oferenda possível, vastidão mais absoluta que há. Impressiona-me que Madalena estreie magnificamente consciente da vastidão mais absoluta que há.»
Valter Hugo Mãe