Fernanda Botelho
Biografia
Estreou-se como poeta (Coordenadas Líricas, 1951), mas seria como romancista que justamente se imporia nas letras como uma das grandes escritoras portuguesas do século XX. Maria Fernanda Botelho de Faria e Castro era sobrinha-neta do escritor Abel Botelho e parente afastada de Camilo de Castelo Branco, e faleceu no dia 11 de dezembro de 2007, com 81 anos. Nascera a 1 de dezembro de 1926, no Porto, cidade que deixaria para cursar Filologia Clássica, primeiro na Faculdade de Letras de Coimbra e depois na de Lisboa. Com David Mourão-Ferreira fez parte da revista Távola Redonda. Seis anos após a sua estreia poética, inaugura a obra ficcional com O Ângulo Raso (1957). Seguir-se-iam, com alguma regularidade, cinco novos romances, para um interregno de 16 anos, pois só, em 1987, sairá Esta Noite Sonhei com Brueghel. Um silêncio de quase duas décadas, que explicou assim: "De repente [após o 25 de Abril de 1974] podia-se dizer tudo. Mas saberia eu dizê-lo? Até que ponto a presença da ditadura moldava a nossa forma de dizer, criava formas mais subtis… Não sei. (…) De repente, tudo era permitido, toda a gente começou a escrever. Então, porquê eu? Em que é que eu ia concorrer para a inflação literária desses dias?". Seguiram-se mais quatro romances, sendo o derradeiro Gritos da Minha Dança (2003).
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O Ângulo Raso
«Fernanda Botelho tem trinta e um anos à data da primeira publicação de O Ângulo Raso, e neste romance já estão as linhas que a sua obra sempre perseguirá. Voltemos ainda ao motivo da geometria, lembrando o poema de abertura de As Coordenadas Líricas, de 1951: (…) A geométrica forma de meus passos procura um mar redondo. Levo comigo, dentro dos meus braços, oculto, todo o mundo. Sozinha já não vou. Apenas fujo às negras emboscadas. Em cada esfera desenho o meu refúgio - as minhas coordenadas. O percurso vital é representado no poema nos termos que descrevem o sistema horizontal de coordenadas geométricas do hemisfério superior - o vértice de que partem as linhas, ao desenhar um semicírculo, sãs as dos cento e oitenta graus do ângulo raso. Neste romance, Fernanda Botelho ilustra essa dupla dimensão: o observador pode mudar de nome mas ocupa sempre a posição central por efeito do trabalho sem mácula sobre a voz narrativa. O arco desenhado figura o movimento mental e a trama da história. Tudo parece regular na forma geométrica, mas não pode descartar-se que o mar redondo continua a ser buscado pelos passos do sujeito errante, vendo-se ao espelho da memória que se abate sobre o presente. Longe de simbolizar a paz, o ângulo raso não cessa de inquietar.»
Paula Morão, no Prefácio
Paula Morão, no Prefácio