Alberto Moravia
Biografia
Alberto Moravia, pseudónimo de Alberto Pincherle, nasceu em Roma, em 1907, numa família próspera de classe média. Ainda criança, adoeceu com tuberculose óssea, tendo passado, ao todo, cinco anos em sanatórios e em casa, entre os 9 e os 17 anos de idade. Talvez este isolamento, que fomentou a voracidade da leitura, explique a precocidade literária do escritor. Colaborou em jornais, ainda muito jovem, e com 22 anos publicou o seu primeiro romance — Os Indiferentes — que teve um grande impacto na atmosfera literária italiana da época. Para tal contribuiu o pendor marcadamente antifascista e antiburguês da obra, no contexto de uma Itália que acabara de assistir à assinatura da concordata entre Benito Mussolini e o Vaticano. Aliás, rapidamente as obras de Moravia viriam a ser proibidas pelo regime ditatorial e colocadas no Índex do Vaticano, por atentarem contra os valores morais e os bons costumes. Por ser oriundo de família judaica e militante de esquerda, viveu nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1941 casou com Elsa Morante, também escritora, e o casamento manteve-se durante quase vinte anos. Regressou a Itália após o conflito e retomou a militância, ao mesmo tempo que aumentava o seu prestígio além-fronteiras e que várias obras suas eram adaptadas ao cinema por grandes cineastas, como Bernardo Bertolucci (O Conformista) e Jean-Luc Godard (O Desprezo). A partir dos anos sessenta, passou boa parte da sua vida em viagens, das quais resultaram, entre outras publicações, Uma Ideia da Índia (Tinta-da-china, 2008) e Cartas do Sahara. Alberto Moravia morreu em Roma, em 1990.
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Cartas do Sahara
África foi talvez o território que Alberto Moravia mais acarinhou
na sua escrita de viagens. Além do Sahara, neste livro visita também
a Costa do Marfim, o Quénia e o Zaire, numa descoberta
que é ao mesmo tempo literária, estética e socioantropológica.
Assim, a subida de barco do rio Zaire torna-se um cotejo com as páginas mais intensas do romance africano de Joseph Conrad, Coração de Trevas; a crua luz tropical da Costa do Marfim reflecte o sonho contemplativo de Gauguin; a imagem de morte do deserto torna-se surpreendente imagem de vida; e a presença de tribos e aldeias primitivas suscita amargas considerações sobre as nefastas consequências do colonialismo.
Mas a grande protagonista destas viagens é a natureza; a nobreza das solidões majestosas, dos diálogos silenciosos entre a floresta e o rio, das intermináveis extensões de terra, água e céu, em que Moravia capta a mensagem profunda de África.
Assim, a subida de barco do rio Zaire torna-se um cotejo com as páginas mais intensas do romance africano de Joseph Conrad, Coração de Trevas; a crua luz tropical da Costa do Marfim reflecte o sonho contemplativo de Gauguin; a imagem de morte do deserto torna-se surpreendente imagem de vida; e a presença de tribos e aldeias primitivas suscita amargas considerações sobre as nefastas consequências do colonialismo.
Mas a grande protagonista destas viagens é a natureza; a nobreza das solidões majestosas, dos diálogos silenciosos entre a floresta e o rio, das intermináveis extensões de terra, água e céu, em que Moravia capta a mensagem profunda de África.