Útero
de Valter Hugo Mãe
Sobre o livro
Útero dialoga com Deus. O autor ousa entrar, num tempo avesso a tais temáti¬cas, no território da reflexão sobre o sagrado, sob a perspectiva de uma aparente, ou não, ausência de Deus no mundo, ou do seu silêncio. E a aproximação a um sentido do invisível que se torna, sobretudo na primeira parte do livro (o de uma voz luciferina), boschiana visão de pesadelo, faz-se não de forma melancólica ou dócil, mas ritualística, sendo as palavras usadas como objectos contundentes. E é nestes agitados contornos, na palavra obstinada e não amaneirada, que se detecta um discurso implodido, feroz: «abro-os a meio/e vou do coração/às tripas boca afiada, invadindo-lhes/a alma sem piedade / uivamos, os fiéis, como / entusiasmo pelo amor que / nos tens ou imposição / incondicional da luz.» Um duelo com Deus «infectado de amor».