Uma Menina Está Perdida no Seu Século à Procura do Pai
de Gonçalo M. Tavares
Sobre o livro
Hanna e Marius, Berlim, Século XX.
Marius encontra uma menina perdida à procura do pai. Hanna, rapariga, cabelos castanhos, olhos pretos, catorze anos. Hanna fala com dificuldades, entende mal o que lhe acontece, não percebe o raciocínio dos outros. Está perdida.
Marius está com pressa mas muda o seu percurso, acompanha-a.
A sua busca leva-os até Berlim, a um hotel com corredores que lembram fantasmas da guerra — e os dois circulam entre as obsessões e os escombros do seu século.
"- E vocês? De onde vêm?
Tentei explicar-lhe que não era um homem falador. Gosto de ouvir, disse-lhe, não tenho muito para dizer.
Ele perguntou, virado para Hanna:
- Como te chamas?
Hanna respondeu. Ele não percebeu. Hanna repetiu, ele continuou sem perceber. Eu repeti:
- Chama-se Hanna.
- Hanna - disse Fried. - Bom.
- Que idade tens?
- Catorze - respondeu, e agora percebeu-se.
Fried sorriu para ela, simpaticamente. Ela disse:
- Olhos: pretos. Cabelo: castanho.
Eu disse: - Ela aprendeu assim.
Depois ela disse:
- Estou à procura do meu pai.
Fried sorriu, não disse nada."
Gonçalo Mira, Ípsilon (Público)
Pedro Mexia, Expresso
Diário Digital
Neste romance, uma menina com trissomia 21 está perdida no centro de uma cidade alemã no século XXI (o "seu século"). É encontrada por um homem que a vai ajudar a procurar o pai. A primeira palavra que nos surge com estrondo é a palavra “deficiente”. A deficiência tem aqui o lugar do contrapoder. Ela opõe-se não só à normalidade, a uma suposta normalidade, como também à lógica, à ordem, ao Organon aristotélico que o autor de Uma Viagem à Índia testa recorrentemente e inverte e procura sabotar e experiencia. Muito bom.