Uma Breve História de Tudo
de Ken Wilber
Sobre o livro
"O título deste livro é enganadoramente ligeiro. Uma Breve História de Tudo cumpre mesmo o que promete".
do Prefácio de Jim Schwartz
Uma Breve História de Tudo é uma incursão apaixonante, acessível e prática pela história da consciência. Ken Wilber analisa o curso da evolução enquanto manifestação reveladora do Espírito, desde a matéria (o cosmos) à vida (a biosfera) e à mente (a consciência humana), incluindo os estádios mais avançados da evolução espiritual, quando o Espírito adquire consciência de si próprio. Segundo o autor, em cada um destes domínios da evolução existem padrões recorrentes, os quais, sujeitos a análise atenta, nos permitem aprender muito sobre a situação difícil que atravessa o nosso mundo e a direcção que a humanidade deve tomar se pretender que a transformação global se torne realidade.
Creditado com o desenvolvimento de uma teoria do campo unificado da consciência - uma síntese e interpretação das grandes tradições psicológicas, filosóficas e espirituais do mundo -, Ken Wilber é talvez o filósofo mais abrangente do nosso tempo.
Vítor Quelhas, Suplemento Cartaz, Expresso, 27/7/2002
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Mas, em alguns aspectos, a racionalidade e a indústria, deixadas a si mesmas, tornaram-se cancros da organização política, excrescências rebeldes que têm efeitos malignos. Ultrapassam os seus limites, excedem as suas funções e erram em direcção a várias hierarquias de dominação de tipos diversos. Transcender a modernidade é recusar ou limitar estas facetas de poder abusivo, ao mesmo tempo que se inclui os aspectos benignos e favoráveis. A transformação que se avizinha transcenderá e incluirá estas características da modernidade, incorporando os seus aspectos essenciais e limitando o seu poder.
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Quando se é absolutamente verdadeiro consigo próprio, acabar-se-á por compreender e confessar que se é Buda, Espírito. Afirmar menos do que isso seria mentir, a mentira do ego, a mentira do sentido do eu separado, a contracção perante o infinito. Os recessos mais profundos da nossa consciência interceptam directamente o próprio Espírito, na identidade suprema. "Não sou eu, mas Cristo, quem vive em mim" - ou seja, o Eu absoluto é Cristo. Este não é um estado inédito, mas, simplesmente, um estado intemporal que se reconhece e confessa - é-se absolutamente verdadeiro quando se afirma: "Sou Buda", a Beleza absoluta.
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Então, as pessoas podem ter experiências espirituais e experiências culminantes, mas, ainda assim, é necessário que transportem essas experiências na sua própria estrutura. Ainda assim, é necessário que cresçam e se desenvolvam até ao ponto em que conseguirão, realmente, integrar a profundidade oferecida pelas experiências culminantes. Ainda assim, é necessário que vão de bolota a carvalho, se pretenderem uma unidade com a floresta.
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Esta é uma alma para a qual todos os desejos se tornaram magros, pálidos e anémicos. Esta é uma alma que, ao enfrentar directamente a existência, está completamente farta dela. Esta é uma alma para a qual o pessoal se tornou completamente plano. Esta é, por outras palavras, uma alma no limiar do transpessoal.
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Este "discernimento espiritual" é o núcleo dos movimentos eco-româncticos, então e agora. Contudo, este "discernimento" não é realmente espiritual num sentido profundo: é uma interpretação completamente formulada no interior dos requisitos secretos da grelha industrial. É, simplesmente, uma das muitas estratégias ocultas que a grelha Descendente moderna utiliza para se defender de qualquer espiritualidade genuína. É um mecanismo de defesa de uma mundividência que deseja manter a mentira infame que afirma que só a natureza finita é real. Para isso, tem de apresentar esta natureza como sendo o Espírito, e tem de apresentar tudo o que se desvie da natureza como sendo o Demónio.
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Infelizmente, a maioria das pessoas encontra-se ainda nos modos de consciência pré-convencional e convencional - egocêntrico e etnocêntrico. Nenhum mapa de sistemas, nenhuma internet, alterará isto automaticamente. Nem sequer um mapa holístico global, ou uma Internet global, irá promover a transformação interior; frequentemente, passa-se o oposto: contribui para a paragem ou mesmo para a regressão. Quando se apresenta meios mundocêntricos a indivíduos em estádios anteriores ao mundocêntrico, esses meios são simplesmente usados (e abusados) para a promoção da acção do indivíduo no estádio anterior ao mundocênctrico. Os nazis teriam adorado a Net.
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E, assim, subitamente, deixamos de estar no corpo-mente. Subitamente, o corpo-mente caiu. Subitamente, o vento não sopra na nossa cara; sopra através da nossa cara, dentro da nossa cara. Não estamos a olhar para a montanha; somos a montanha - a montanha está mais próxima de nós do que a nossa prórpia pele. Somos aquilo e não há nós - apenas toda esta revelação luminosa que surge espontaneamente de momento a momento. O eu separado não se encontra em lado nenhum.
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E, lembra-se? Ali, no Coração, onde o casal se une finalmente, e nós estamos exactamente onde estávamos antes do início de todo o espectáculo. Com um choque súbito pelo absolutamente óbvio, reconhecemos o nosso Rosto Original, o rosto que possuíamos antes do Big Bang, o Rosto do Vazio puro que sorri enquanto toda a criação e canta enquanto todo o Kosmos - tudo se desfaz nesse olhar primitivo, e tudo o que resta é o sorriso e o reflexo da lua num lago tranquilo, muito tarde, numa noite clara como cristal.