Sobre o livro
Obra-prima de Joyce, o melhor romance do século XX para muitos dos amantes da literatura, "Ulisses" viria a revolucionar a escrita de ficção e a tornar-se o mais idolatrado dos livros do século XX (só rivalizando com a "Recherche..." de Proust). E, como todas as obras-primas, alguns receberam-no mal no seu tempo (foi recusado por Virgínia Woolf para publicação na sua editora - "aquelas páginas tresandavam a indecência" - referido como "a coisa mais porca que alguém já escreveu", por D.H.Lawrence, proibido por muitos anos nos EUA). Mas hoje Joyce é autor consagrado e o próprio governo irlandês promove a sua obra. No dia 16 de Junho celebram-se os primeiros cem anos do Bloomsday, o dia em que se situa a acção de "Ulisses", com uma série de eventos um pouco por todo o mundo.
"Há obras que nos convocam imperativamente para os sentidos do acto de ler. 'Ulisses' é uma delas. Tal como o texto de Joyce transforma os que o precedem, não há leitor que não se torne um leitor diferente depois de ler 'Ulisses'. [...]
"A viagem do Ulisses modernos, Leopold Bloom, ocorre em Dublin, no dia que a história literária consagrou como Bloomsday. De Calipso a Ítaca (de sua casa a sua casa) se alonga a solitária errância que o reconduz ao ponto de partida. Pelo dia fora descansa numa igreja, lê a carta da mulher com quem se corresponde, assiste ao funeral de um amigo, passa pelo jornal onde trabalha, almoça num 'pub', compra um livro pornográfico para sua mulher, Molly, vê o amante desta partir para o encontro na sua própria casa, enfrenta um xenófobo bronco, masturba-se na praia em frente de uma rapariga, vai a uma maternidade e a um bordel, acompanha Stephen Dedalus, embriagado e agredido por soldados ingleses, e reentra noite dentro na sua cama, ao lado de Molly, que acorda, rememora a tarde ali passada com o amante e os amores antigos em Gibraltar, antecipa o concerto onde cantará 'Là ci darem la mano' e readormece junto do homem com quem não tem relações sexuais completas há mais de dez anos, desde a concepção do filho morto, Rudy."
Abílio Hernandez Cardoso, Público, Mil-Folhas