Sementes Daqui
de Lídia Borges
Grátis
Sobre o livro
"Alicerçada em cinco grandes pilares intitulados "Da Terra", "Da Poesia", "Da Natureza", "Dos Amigos" e "Dos Homens", a obra é um diálogo intertextual que possibilita uma harmoniosa articulação com a voz da escritora Maria Ondina Braga, que Lídia Borges evoca magistralmente, quer através das epígrafes que antecedem cada capítulo, e que constituem o primeiro andamento para o desnovelar musical do texto poético, quer através de uma rede imagética onde a doçura das metáforas, das comparações, das antíteses e das hipérboles permite ao leitor evocar com transparência a obra da escritora bracarense.
Com efeito, Sementes Daqui é uma viagem pela memória da autora, com laivos de nostalgia agridoce onde a coisa evocada simultaneamente fere e energiza ("Caixa de ressonância surda / em busca do compasso certo / do tom") e ainda um olhar reflexivo e intimista, quase confessional, pela interioridade inquietante da alma humana que se materializa numa arte de equilíbrio e serenidade ("Amputei ervas daninhas. / Das searas guardei o louro / promessa de pomo e pão. / Da terra colhi a poesia / raiz íntima deste chão.") mas também de constante insatisfação e interrogação ("A vida vai deixando ideias pelo caminho / farta-se delas por já não as entender.")
Sementes Daqui é uma obra muito bela que se lê num sopro. Como se fosse uma música. Ou o instante de uma onda salgada a temperar a vida, a definir com exatidão a verdadeira função da arte poética."
Excerto do prefácio, por Ana Paula Mateus
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Lídia Borges, não de todo como aquela Maria Ondina Braga de A Filha do Juramento, que confessou, um dia: "Fui e fiquei", ela, a poeta de Sementes Daqui, foi a que ficou indo, à procura de si, à procura de ser.
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Dividida entre o desejo de imortalidade que, tantas vezes, leva o poeta a reconhecer que "temos os olhos no mesmo rio/ e cobre-nos o mesmo céu/ onde a lua teima / em não se dar a beber" (Cap, Dos Amigos, p. 60) e o desejo de ressurreição, volto a Otávio Paz (La Otra Voz, Poesia y Fin de Siglo, Seix Barral, 1990, p.88), leio (e registo) em Sementes Daqui : "Não desistas já de mim, Poesia" (p.28), Lídia Borges, bem ao modo da figura tutelar que, como ela, aprendeu a ter as palavras emalta consideração, pois que todo o eu poético não é reflexo de narcisismo, usam-no os poetas, como preconizou Stendhal: "(...) porque não há outro meio para contar a vida." (Mémorires d'un touriste)
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Vergílio Alberto Vieira