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Sobre o livro
Nota do autor:
Nasci no Porto, em 1952, dois anos depois da morte de Guilhermina Suggia, que foi professora e grande amiga de minha mãe, a quem deixou em herança a casa onde vivia, após o seu casamento com o grande médico e cientista, Dr. José Carteado Mena.
Foi, pois, nessa casa que nasci e cresci, e tudo ali me falava de Suggia, todos os móveis, cortinados, os sofás onde me sentava, a mesa onde comia, a minha cama, que havia sido a dela. Isto, além das inúmeras fotografias que me mostravam a sua imagem, algumas de diva, e algumas mais íntimas, que abundavam pelas gavetas. É com essa distância e essa proximidade que sobre ela escrevo; com olhos de quem a vê, glamorosa, e a julga pela sua imagem exterior; e com a alma de quem sente, quase, o murmúrio das suas palavras, exprimindo a sua sensibilidade de artista e de mulher.
Neste último livro, a voz de quem fala, pertence a Guilhermina Suggia e a Isabel Cerqueira; é, este, o nome de solteira da minha mãe. Esta é a história do regresso da violoncelista à sua terra natal e à cidade do Porto, onde nasceu, quando se casou com o Dr. Carteado Mena, figura proeminente da sociedade portuense da altura.
Vieram ambos viver para a Rua da Alegria n.º 665, casa que foi comprada pelo Dr. Carteado Mena para nela viver com a sua mulher. Suggia, porém, era uma grande artista, que pertencia ao mundo, e nunca se passava muito tempo sem que partisse em digressão, sobretudo por Inglaterra, que considerava como sua segunda pátria. Durante a 2.ª Grande Guerra Mundial, porém, viu-se forçada a permanecer em Portugal e reuniu em sua casa, então, um grupo restrito de alunos, ao qual veio a pertencer a minha mãe.