Pedaços de História Local (2 volumes)
de António de Oliveira
Sobre o livro
«A História Local desenvolveu-se muito nas últimas quatro décadas [...]. Os historiadores profissionais chamaram-na a si, sem perder a benfazeja feição dos que amam a pátria local, sentimento enraizado de pertença a uma comunidade que se estuda como se pode ou como se sabe. Saber hoje adquirido cada vez mais no ensino superior, caminhando-se para o entrosamento das novas competências com o natural gosto pela investigação do espaço local [...].
A Constituição Política de 1976 modelou o poder local [...] como espaço de intervenção democrática, buscando as origens e o seu desenvolvimento. O reacender dos afectos de que os homens se mostram tão carentes, pode tentar-se, precisamente, pela vivificação de um certo poder local, criador de círculos de sociabilidade através da participação nas coisas públicas. Numa república local não há apenas a gestão camarária, mas a cidade viva, a que constitui, afinal, a república».
Considerações prefaciais assumidas no desenvolvimento dos primeiros textos do volume, uma teoria antes de entrar numa localidade, a cidade de Coimbra, na qual se percorrem ruas simbólicas como a dos encantos de Sofia, se adentra nas estruturas sociais e se assiste a conflitos de uma urbe diversa, nomeadamente ao tempo dos cristãos-novos e da adesão da cidade a D. António, rei de Portugal, ao mesmo tempo que se vão encontrando poderes locais como os da Misericórdia, da Câmara e da Universidade nos séculos XVI a XVIII. No horizonte envolvente, uma reflorestação quinhentista.
Se Coimbra, cidade, pode ser representada por uma figura feminina de estirpe régia, a Coimbra Universidade, com «coerência e coesão» urbana, é simbolizada pela imagem de um estudante universitário.
A imagética estudantil, com efeito, une os textos deste segundo volume que sobretudo representa o caminho do quotidiano escolar «ao exercício de uma profissão, nomeadamente a docência. Leituras ouvidas, leituras pestanejadas à luz do candeeiro ou da vela, prolongamento do alvorecer do dia laborioso. Leituras ou escritas sonhadas, pensadas, ditas e fixadas com auxiliares ou não [...].
Percurso difícil, o de estudante e o de professor, com muitas encostas a trepar. Não apenas as da topografia, a caminho do Paço das Escolas.
Era aqui, em termos simbólicos, que se devisava o futuro todo [...]. A começar pelo dos saberes de então, incluindo o saber histórico que aparece curricularmente organizado de novo dentro de uma nova Faculdade a seguir a uma revolução. Foi há cem anos».
Nela participou, da génese à consolidação, como estudante, como militar e como amante da história local, o coronel Belisário Pimenta, doador à Universidade do seu espólio literário. Dele se traça uma biografia emotiva. «O estudante, que se tornou graduado, reencontra o estudo da História, uma vez tirada a veste do ofício. Com toda a força dos começos, onde tudo se resolve em tenra idade», como se escreve no prefácio.