O Cônsul
de Júlia Nery
Grátis
Sobre o livro
Amarrotado pelos encontrões, sem nenhum cansaço apesar dos quilómetros que percorrera em tempo recorde, o Cônsul sentou-se a assinar vistos. Movia a caneta e o carimbo com uma tal energia frenética, que um dos depoentes no processo viria a dizer em sua defesa que ele lhe parecera então fora do seu juízo. O Cônsul assinou e carimbou até ser impedido por um funcionário do Governo que lhe transmitiu a ordem de regressar imediatamente a Portugal.
Ter, pela primeira vez na vida, assumido frontalmente o seu desacordo com o poder, enfrentando grandes riscos cujos ecos lhe ensurdeceriam o futuro, fazia-o experimentar o apaziguamento de uma liberdade de si nunca antes conhecida. Recuperou a serenidade da expressão. Fora capaz de agir como quem era, em coerência com tudo aquilo em que verdadeiramente acreditava. Precisava disfrutar dessa glória até ao limite.