Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas - 9 - Lousã
de José Manuel Azevedo e Silva
Grátis
Sobre o livro
Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas podem concorrer (…) para a identificação de sítios e lugares que albergaram pequenas comunidades humanas, inseridas em configurações de espaços físicos, etnográficos, económicos, político-administrativos, culturais, mentais, hagiográficos que, eventualmente, continuamos a desconhecer e que, no entanto, suportam o corpo e a alma do Portugal mais profundo.
O presente volume desta colecção integra as principais notícias e memórias paroquiais do século XVIII relativas às freguesias do actual concelho da Lousã. Para além da possibilidade da reconstituição da realidade de então e do seu cotejo com a de hoje, procura-se entender e explicar a intenção do Poder Central em dispor, naquela época, de dados "estadísticos"/estatísticos e sugerem-se vias para usar, como "recurso" do desenvolvimento, o valioso património natural e cultural deste concelho da Lousã.
O concelho da Lousã como que começa no acidente rochoso a que Frei Agostinho de Santa Maria chama Portas da Candosa. É por esta "Porta", em forma de garganta, que entra o alvor do Sol, pois que, face ao termo do concelho, se situa aproximadamente a Nascente. É também por esta "Porta" que entra o rio Ceira para, juntos, realizarem, nas planuras do concelho, o milagre da fertilização. Na verdade, quase todas as "Notícias" do concelho da Lousã referem a sua beleza e a sua fertilidade.
Ao cimo da vertente da margem esquerda, está a Ermida de Nossa Senhora da Candosa, como que a sacralizar os campos de milho e os lares que dali a vista alcança, nas duas freguesias de Serpins e de Vila Nova do Ceira, dos concelhos da Lousã e de Góis, respectivamente. Outro local mágico do concelho da Lousã é o conjunto rochoso que a Ribeira de São João contorna, serpenteando entre o penhasco em que se encavalita o castelo de Arouce (da Lousã), tendo em frente, mas do outro lado da Ribeira, outro morro, do qual Nossa Senhora da Piedade contempla o velho castelo, guardando, em segredo, as suas lendas e, porventura, a sua história.
O Castelo de Arouce (Lousã) é, talvez, dos castelos portugueses, aquele a que mais complexas lendas deu origem. Porque a sua história se esconde por detrás dos tempos, a Miscelânea do Dr. Miguel Leitão d’Andrada dedica-lhe uma peça mítica e uma lenda de amor que bem quadra com o silêncio e a paz que ali se "respiram", qual paraíso que só não é perdido, porque está lá a provar que o homem não é assim tão poderoso, que ainda não chegou a toda a parte e, se chegou ali, qual Gomorra, "cristalizou" ante semelhante "dilúvio" de beleza.