Espero por ti no Huambo
de Helena Rainha Coelho
Sobre o livro
No Huambo o tempo ia decorrendo sem que eu desse por ele passar. Às ventanias ciclónicas e às chuvadas diluvianas que ensopavam o solo, logo o sol tórrido secava a terra vermelha, barrenta, abrindo-lhe fissuras de formas geométricas.
Meses depois, chegaria o tempo da seca. Era o cacimbo que nos humedecia a pele, tornando-a peganhenta. O céu, sempre nublado, pardacento, era cor da cinza. Nas sanzalas e nos quimbos, as fogueiras devoravam os ramos secos, apanhados na anhara, que estalavam em som ritmado, lambidos pelas labaredas, induzindo o sono.
Lá longe, ao pôr-do-sol, as queimadas pintavam o horizonte com as cores de uma paleta laranja, rubra e negra. E iam sugando tudo o que encontravam na terra seca e se tornava combustível para as chamas na bocarra devoradora. O que na época das chuvas fora capim verde e suculento para os animais do mato no sertão imenso, agora até os delicados ramos das frágeis acácias da savana se tornavam cinza alada que, em nuvens negras, iam subindo e escurecendo o céu, até o horizonte se tornar resíduo negro que se confundia com a noite.
Johnny adaptou-se bem à cidade dos doutores. Gostou do Liceu e os companheiros da Pensão integraram-no facilmente na vida académica que a cidade partilhava. Com a sua voz afinada e bem timbrada, ele era muito solicitado para cantar as melódicas baladas e fados de Coimbra nas serenatas, dando-lhes a voz e a alma.
Apesar da falta de meu filho me fazer doer, eu apenas passava por Coimbra de vez em quando, hospedando-me no Hotel Astória. E, ao Domingo, John convidava a Eunice e a Celina para partilharem connosco a Missa em Santa Cruz e, a seguir, o almoço no Hotel. Depois, se chovia íamos assistir à matinée no Cinema Tivoli ou no Avenida. Mas, se fazia bom tempo, passeávamos pela bela e histórica cidade sempre jovem, onde o Amor surgia em cada canto...