Comeres e Beberes Madeirenses em Horácio Bento de Gouveia
de Thierry Proença dos Santos
Sobre o livro
Recuperar as marcas de identidade culinária do arquipélago da Madeira, sem pôr em causa a existência da cozinha experimental dos grandes chefes, é desafio que cabe aos especialistas da arte culinária levantar.
Se algum chefe de cozinha começasse por se inspirar nos pratos que Horácio Bento de Gouveia traz à mesa… da leitura, essa seria uma porta de acesso à cultura madeirense, a partir dos quais poderia desenvolver uma cozinha "da memória", com ingredientes regionais, tratados com sofisticação, a exemplo do que já alguns cozinheiros, dignos desse nome, praticam.
Por isso, fica aqui expresso o desejo de que restauradores se inspirem do presente trabalho para propor à sua clientela uma ementa bentiana. É tempo de voltar às origens da gastronomia madeirense para construir um futuro que não renegue a sua originalidade e as suas características tradicionais.
Horácio Bento de Gouveia nasceu em Ponta Delgada, em 1901. Colaborador da imprensa, foi jornalista, ensaísta, conferencista, cronista e ficcionista, tendo publicado crónicas, contos e romances, bem como desenvolvido outras actividades radiofónicas e televisivas, a nível regional - programas sobre aspectos histórico-culturais da Ilha e sobre a Língua e Cultura portuguesas. Por isso mesmo, mas também pela tentativa de descrever a "madeiridade" de que a obra dá conta, o escritor Horácio Bento de Gouveia é, hoje em dia, considerado por muitos o Vitorino Nemésio madeirense. Algumas das maiores figuras literárias da época, com destaque para Hernâni Cidade, Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro e Joaquim Paço d’Arcos, fizeram salientar em documentos manuscritos ou impressos, o génio do prosador natural da Ilha, louvando os méritos da sua prosa aprumada, escorreita e criativa, conferindo-lhe, com os seus destacados encómios, dimensão nacional.
Recebeu homenagens públicas em vida (1980) das Câmaras Municipais de S. Vicente e Funchal, as quais lhe entregaram as respectivas "Medalhas de Ouro", assim como do Governo Regional da Madeira, que atribuiu o seu nome a uma Escola Secundária no Funchal. Faleceu na Ilha da Madeira, a 23 de Maio de 1983.