Classico
de José Ricardo Nunes
Grátis
Sobre o livro
Poder-se-á dizer que é um livro, como tantos outros, reflecte sobre os modos como lidamos com o amor «(…) o amor,/ a vida, o desgarrado mundo,/ a vida perdida, a vida ainda.», a vida e a morte, embora o poeta nos diga que não quer falar da morte, mesmo que seja a dos outros, como a de Chet Baker, caído de uma janela dum hotel em Amesterdão: «Não pretendia falar da morte dele./ Não queria de todo falar acerca da morte./ O meu tema era a embocadura./ Porém, falar doutro assunto amarga./ (…) Talvez a morte seja apenas/ esperança alimentada até doer./ Há noites em que o oiço cantar Almost Blue/ e quase percebo porquê.» Mas o que importa mesmo em JRN é a sua capacidade de ironia, o jeito de saber falar e ao mesmo tempo evitar falar sobre o que quer. Mas ele já nos tinha avisado, com Pasolini (epígrafe de abertura): «Solo l’amare, solo il conoscere,/ conta, non l’aver/ amato, non l’aver conosciuto.»
Classico reúne poemas escritos entre 2015 e 2018.
"Classico", assim mesmo, sem acento, reúne 24 poemas escritos entre 2015 e 2018. O autor faz questão de o sublinhar, levando-nos a crer numa preocupação com a organização que tende a associar o poema a um período existencial específico. Estes poemas surgem marcados pelo ferro do tempo vivido, são “consequência do lugar” e da experiência. Neles encontramos referências concretas a espaços físicos e a pessoas com nome próprio, como que oferecendo uma clareza de exposição na qual acabamos por subentender momentos de reflexão intimistas, obscuros, melancólicos. O dentro (interior, intimidade) é escuro, não se deixa revelar facilmente. A vida tende para um vazio, para o desperdício, e é sempre enigma irresolúvel.