Sobre o livro
Na rua do arco-celeste há sete casas, cada uma de sua cor; e também
um café, uma horta, um jardim, uma florista, uma sucata, um infantário e
uma escola. Mas, embora lá vivam pessoas - que frequentam o café,
trabalham na horta, lêem no jardim, compram flores para oferecer a
quem amam, se desembaraçam dos seus podres ou jogam à bola no
recreio -, esta história é contada apenas pelas coisas que lhes
pertencem à medida que vão mudando de lugar, e por isso se diz que o
livro é sem ninguém. E, ainda assim, durante este ano extraordinário,
acontece de tudo na rua: há quem se apaixone e quem se separe, quem
nasça, quem morra, quem mate e até quem, depois do trauma, consiga
uma vida nova. Mas, como em todas as ruas, havemos de encontrar
nesta preconceitos, dúvidas, alegrias, segredos e desgostos. Enquanto
isso, o tempo vai passando sem darmos por ele, mas a montra da
florista e o que se colhe ou semeia na horta nunca nos deixam perder
do mês em que estamos.
Num romance profundamente original, a um tempo cru e delicado,
poético e realista, Pedro Guilherme-Moreira usa o microcosmos da rua
para desenhar o retrato da sociedade contemporânea e abordar temas
tão polémicos como a xenofobia, a violência doméstica, a repressão
sexual ou o envelhecimento. E - miraculosamente - sem precisar de
ninguém.