Rui Tavares
Biografia
Rui Tavares (Lisboa, 1972) é licenciado em História pela Universidade Nova de Lisboa, com mestrado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e doutoramento pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris. Autor de vários livros, entre os quais o Pequeno Livro do Grande Terramoto — prémio RTP/Público de melhor ensaio de 2005 e com dezenas de reimpressões até hoje — e O Censor Iluminado — premiado pela Academia da História Portuguesa como melhor livro de história de Portugal em 2019. Atualmente professor associado convidado na Universidade Nova de Lisboa, foi investigador visitante na Universidade de Nova Iorque (2016) e no Instituto Universitário Europeu de Florença (2018), bem como professor visitante na Brown University (2018) e na Universidade de Massachusetts (2020). É o autor do programa televisivo de divulgação histórica Memória Fotográfica (RTP, 2018) e do podcast de história Agora, Agora e mais Agora, também publicado em livro, e coordenou Portugal: Uma Retrospectiva. Atualmente, é deputado à Assembleia da República pelo partido LIVRE.
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Hipocritões e Olhigarcas
De Martinho Lutero a Donald Trump, da invenção da imprensa às redes sociais, o historiador Rui Tavares transforma em livro cinco aulas sobre guerras culturais.
Não é possível entender o presente sem entender as guerras culturais — fenómenos de polarização extrema em torno de identidades, valores e narrativas, com grande intensidade emocional, que fazem de nós e dos outros meio humanos e meio bichos.
Só que, ao contrário das grandes certezas dos teóricos — da economia à geopolítica — as guerras culturais não nos dão explicações simplistas. É que não é possível falar de guerras culturais sem falar de cultura, sem assumir que a cultura é a esfera primária em que os humanos vivem, um mundo de labirintos e asteriscos.
O passado das guerras culturais ensina-nos a olhar para o nosso futuro imediato — e diz-nos que precisamos de novas palavras para entender novos monstros.
«Precisamos de novos monstros. Os antigos tinham os ciclopes, com apenas um olho enorme no meio da testa, ou as górgonas de cabelo de serpente, para explicar os medos dos seus tempos. Mas os monstros antigos não chegam. Precisamos de novas palavras também. As que usamos estão gastas.
Considerem, por exemplo, hipocrisia. É para muitos o crime político supremo, mas então que dizer disto? Dois dias antes da sua tomada de posse como presidente dos EUA, Donald Trump lançou uma nova criptomoeda, $TRUMP, que não tem nenhum valor intrínseco e serve apenas como forma de especulação para, claro, tornar Trump ainda mais rico.
O que isto quer dizer, essencialmente, é que qualquer poder económico ou governo que queira corromper Donald Trump e família nem precisa de se preocupar em estabelecer canais indiretos.
Se isto não é hipocrisia, por ser tão despudoradamente escancarado por parte de quem prometia «drenar o pântano» da corrupção, teremos então de inventar novas palavras: é hipocrisérrima. Com a sua hipocriptomoeda, Donald Trump é um hipocritão, um monstro gigantesco feito de metal dourado, com um enorme botão vermelho na testa a dizer: corrompa-me agora.»
Não é possível entender o presente sem entender as guerras culturais — fenómenos de polarização extrema em torno de identidades, valores e narrativas, com grande intensidade emocional, que fazem de nós e dos outros meio humanos e meio bichos.
Só que, ao contrário das grandes certezas dos teóricos — da economia à geopolítica — as guerras culturais não nos dão explicações simplistas. É que não é possível falar de guerras culturais sem falar de cultura, sem assumir que a cultura é a esfera primária em que os humanos vivem, um mundo de labirintos e asteriscos.
O passado das guerras culturais ensina-nos a olhar para o nosso futuro imediato — e diz-nos que precisamos de novas palavras para entender novos monstros.
«Precisamos de novos monstros. Os antigos tinham os ciclopes, com apenas um olho enorme no meio da testa, ou as górgonas de cabelo de serpente, para explicar os medos dos seus tempos. Mas os monstros antigos não chegam. Precisamos de novas palavras também. As que usamos estão gastas.
Considerem, por exemplo, hipocrisia. É para muitos o crime político supremo, mas então que dizer disto? Dois dias antes da sua tomada de posse como presidente dos EUA, Donald Trump lançou uma nova criptomoeda, $TRUMP, que não tem nenhum valor intrínseco e serve apenas como forma de especulação para, claro, tornar Trump ainda mais rico.
O que isto quer dizer, essencialmente, é que qualquer poder económico ou governo que queira corromper Donald Trump e família nem precisa de se preocupar em estabelecer canais indiretos.
Se isto não é hipocrisia, por ser tão despudoradamente escancarado por parte de quem prometia «drenar o pântano» da corrupção, teremos então de inventar novas palavras: é hipocrisérrima. Com a sua hipocriptomoeda, Donald Trump é um hipocritão, um monstro gigantesco feito de metal dourado, com um enorme botão vermelho na testa a dizer: corrompa-me agora.»
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