Raquel Serejo Martins
Biografia
Raquel Serejo Martins (Trás-os-Montes, 1974), Economista, com pós-graduações em Direito Penal e em Direito Administrativo, vegetariana, dançava flamenco agora estuda violoncelo, tem três gatos, vive em Lisboa. Todos os dias ouve uma canção do Sinatra, do Sabina ou do Buarque. Todos os dias lê pelo menos um poema. Tem em papel dois romances: A Solidão dos Inconstantes (2009) e Pretérito Perfeito (2013), cinco livros de poesia: Aves de Incêndio (2016), Subúrbios de Veneza (2017), Os Invencíveis (2018), Plantas de Interior (2019) e Silêncio Sálico (2020), e uma peça de teatro: Preferia estar em Filadélfia (2019). Já escreveu duas canções.
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Subúrbios de Veneza
«Uma definição?
Sou coisa de difícil explicação.
Um gosto e um desgosto?
Talvez por ser trasmontana, possível porquê, gosto do Inverno, a lenha a crepitar na lareira, a água a apitar na chaleira, o chá a fumegar na chávena, o aconchego dos gatos, os cachecóis, os gorros.
E não, não gosto do Inverno, o frio, a chuva, os ossos, apesar de, na minha balança pesam toneladas, em bicos de pés fingindo leveza, irreprimíveis, saudades da neve e das amendoeiras em flor.
As saudades da neve afogo-as no mar e porque pesadas vão ao fundo num ápice, das amendoeiras levo-as a dançar com os jacarandás.
Viste?
Não, não vi.
Pois é!
Da música, o samba, o jazz, a ópera, o fado, a clássica, que o mesmo é dizer, a Elza, a Elis, a Holly Cole, a Callas, o Camané, o Bach, o Bomtempo, o Schubert, o Gershwin e sempre o meu Buarque e o meu Sabina.
Dos pássaros, andorinhas, gaivotas e corvos.
Da dança o flamenco e a Bausch.
Da arquitectura o Siza, o Corbusier, o Niemeyer, o Mies.
Da pintura a Rego, o Pomar, o Amadeo, o Manta, os impressionistas em que Caillebotte o preferido, e, nota lento e no afecto, a Ana Cristina Dias.
Da fotografia o Capa, o Castello-Lopes, a Cunningham, o Gageiro, o Korda, só na secção a preto e branco.
Do cinema, os realizadores, os actores, tantos que vou dizer nome nenhum.
Dos livros, percebo que com o tempo construí uma geografia óbvia, os latinos, os mediterrânicos, os sul americanos e a somar os russos.
Um desgosto, mousse de chocolate, gostava muito, deixei de gostar.
Um desgosto a sério, a morte do meu pai.»
Sou coisa de difícil explicação.
Um gosto e um desgosto?
Talvez por ser trasmontana, possível porquê, gosto do Inverno, a lenha a crepitar na lareira, a água a apitar na chaleira, o chá a fumegar na chávena, o aconchego dos gatos, os cachecóis, os gorros.
E não, não gosto do Inverno, o frio, a chuva, os ossos, apesar de, na minha balança pesam toneladas, em bicos de pés fingindo leveza, irreprimíveis, saudades da neve e das amendoeiras em flor.
As saudades da neve afogo-as no mar e porque pesadas vão ao fundo num ápice, das amendoeiras levo-as a dançar com os jacarandás.
Viste?
Não, não vi.
Pois é!
Da música, o samba, o jazz, a ópera, o fado, a clássica, que o mesmo é dizer, a Elza, a Elis, a Holly Cole, a Callas, o Camané, o Bach, o Bomtempo, o Schubert, o Gershwin e sempre o meu Buarque e o meu Sabina.
Dos pássaros, andorinhas, gaivotas e corvos.
Da dança o flamenco e a Bausch.
Da arquitectura o Siza, o Corbusier, o Niemeyer, o Mies.
Da pintura a Rego, o Pomar, o Amadeo, o Manta, os impressionistas em que Caillebotte o preferido, e, nota lento e no afecto, a Ana Cristina Dias.
Da fotografia o Capa, o Castello-Lopes, a Cunningham, o Gageiro, o Korda, só na secção a preto e branco.
Do cinema, os realizadores, os actores, tantos que vou dizer nome nenhum.
Dos livros, percebo que com o tempo construí uma geografia óbvia, os latinos, os mediterrânicos, os sul americanos e a somar os russos.
Um desgosto, mousse de chocolate, gostava muito, deixei de gostar.
Um desgosto a sério, a morte do meu pai.»