João Francisco Vilhena
Biografia
João Francisco Vilhena nasceu em Lisboa em 1965. Trabalhou como
fotojornalista e colaborou com diversos jornais e revistas, em Portugal
e no estrangeiro, tais como a Revista Ler, Elle, Máxima, Marie Claire,
Oceanos, Visão, Grande Reportagem, Colóquio-Letras, Der Spiegel,
Le Monde e o suplemento cultural DNA. Foi editor fotográfico do
semanário O Independente e do semanário Sol, e diretor de arte da
Tabacaria, a revista literária da Casa Fernando Pessoa. Tem realizado
diversas exposições em Portugal e no estrangeiro. Assinou vários
livros em coautoria e tem participado nos júris de diversos prémios de
fotografia.
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Diário das Nuvens
As voltas que o mundo dá. E fica tudo dito, neste movimento, da terra sobre si para que contemos as revoluções, neste nó que o destino dá aos planos de cada qual, as tonturas da pressa como as da travagem brusca. Dois amigos que há muito se não viam reencontraram-se. E logo ergueram planos, vários, que foram pondo em movimento, em invariável busca do cruzamento entre imagem e palavra. Estavam nisto quando regressaram os dias que pareceram um só, estendido até perder de vista.
Suspenderam-se os encontros e os abraços congelaram no ar. Era o confinamento. Diz um: as nuvens olham por nós, envolvem-nos em silêncio. Podem absorver maus pensamentos, só por lhe devolvermos um olhar paciente, diz o outro. O primeiro escolhia a nuvem vista da sua janela de último andar e logo transmitia desafio, travando a passagem das massas fascinantes. O segundo na varanda do seu derradeiro andar parado antes do céu acompanhava a dança sem marcação, na absoluta liberdade da recolha de ecos do mundo e do espírito das palavras.
O parágrafo só se fechava, entre o delírio e a trova, a observação e o pensamento, com o espelho da fotografia. No recolhimento imposto pela catástrofe estes dois amigos, que vivem ambos rente ao céu, impedidos de o fazer de copo na mão, insistiram no jogo dos vasos comunicantes. E prolongaram-no em filmes, em exposições, neste livro. O mais limpo dos céus contém a promessa de nuvens. Mas a névoa não tem que significar mau tempo. Sigamos o sopro e os ventos.
Suspenderam-se os encontros e os abraços congelaram no ar. Era o confinamento. Diz um: as nuvens olham por nós, envolvem-nos em silêncio. Podem absorver maus pensamentos, só por lhe devolvermos um olhar paciente, diz o outro. O primeiro escolhia a nuvem vista da sua janela de último andar e logo transmitia desafio, travando a passagem das massas fascinantes. O segundo na varanda do seu derradeiro andar parado antes do céu acompanhava a dança sem marcação, na absoluta liberdade da recolha de ecos do mundo e do espírito das palavras.
O parágrafo só se fechava, entre o delírio e a trova, a observação e o pensamento, com o espelho da fotografia. No recolhimento imposto pela catástrofe estes dois amigos, que vivem ambos rente ao céu, impedidos de o fazer de copo na mão, insistiram no jogo dos vasos comunicantes. E prolongaram-no em filmes, em exposições, neste livro. O mais limpo dos céus contém a promessa de nuvens. Mas a névoa não tem que significar mau tempo. Sigamos o sopro e os ventos.