Helena Cabeçadas
Biografia
Helena Cabeçadas é mestre em Antropologia, pós-graduada em Psicossociologia e licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Livre de Bruxelas, cidade onde se exilou aos 17 anos, após ter sido expulsa de todas as escolas de Portugal, durante a ditadura de Salazar. Exerceu funções docentes em diferentes estabelecimentos do Ensino Superior e integrou o quadro do Centro de Estudos e Profilaxia da Droga quando da sua formação, em 1977. Em 1982 obteve uma bolsa Fulbright para Filadélfia (EUA), onde trabalhou no Philadelphia Psychiatric Center (Drug Treatment Program). Em 1984 foi requisitada pelo Governo de Macau para trabalhar na área da toxicodependência e saúde mental, tendo sido também investigadora na Universidade Chinesa de Hong Kong. É autora de diversos artigos científicos sobre drogas e cultura, prevenção das toxicodependências e comunidades terapêuticas. Publicou os livros "Bruxelas, Cidade de Exílios", "Moçambique. Sonhos, vivências e memórias" e "Filadélfia a preto e branco".
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Macau
«Este é um livro sobre Macau, uma cidade singular e improvável. É a cidade que eu fui descobrindo, com fascínio e exasperação, ao longo dos quase cinco anos em que lá vivi: as ruelas labirínticas, as alucinantes lojas de velharias e de animais para comer, o Porto Interior, com a sua população flutuante, fervilhante de vida, o contraste violento entre a Macau antiga, amável e decadente e a afirmação de uma modernidade agressiva, os múltiplos restaurantes, de comidas apetitosas e sabores subtis, o mercado com os seus cheiros intensos e, por vezes, nauseabundos, as farmácias intrigantes, a elegância da escrita, os casinos rodeados de casas de penhores, a omnipresença do jogo, a total ausência de repouso… Questões como a psicologia e o pensamento chinês são aqui postos em destaque, tal como o problema da droga e das sociedades secretas, aspectos menos conhecidos e menos luminosos da vivência da cidade.
Todo o texto está impregnado de surpresa e ironia: surpresa, quando não pasmo, perante a alteridade, as práticas e os valores do outro; ironia, ao sopesar diferenças e paradoxos. Assim se exerce o olhar da antropóloga, que entende a diferença, mas frui de a apreender nos seus contrastes. Narra histórias e cita provérbios chineses exemplares: umas e outros ilustram o choque cultural - como decorre daquele provérbio que surge logo no começo do livro e anuncia como um estrangeiro escreverá tanto menos sobre a China quanto mais tempo viver nela, tais os enigmas do país e as opacidades da sua civilização. E a autora condescende e reconhece que "o pensamento labiríntico (dos chineses) se assemelha à composição dos seus jardins".»
[António Vieira]
Todo o texto está impregnado de surpresa e ironia: surpresa, quando não pasmo, perante a alteridade, as práticas e os valores do outro; ironia, ao sopesar diferenças e paradoxos. Assim se exerce o olhar da antropóloga, que entende a diferença, mas frui de a apreender nos seus contrastes. Narra histórias e cita provérbios chineses exemplares: umas e outros ilustram o choque cultural - como decorre daquele provérbio que surge logo no começo do livro e anuncia como um estrangeiro escreverá tanto menos sobre a China quanto mais tempo viver nela, tais os enigmas do país e as opacidades da sua civilização. E a autora condescende e reconhece que "o pensamento labiríntico (dos chineses) se assemelha à composição dos seus jardins".»
[António Vieira]