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Este livro é a primeira história da literatura da diáspora portuguesa nos países anglófonos do Novo Mundo: Estados Unidos, Canadá e Trinidad & Tobago. O seu objetivo principal é identificar os escritores e obras primárias desta tradição literária que remonta a finais do século XIX, mas que só atinge um notável nível quantitativo e qualificativo a partir da década de 1990. Nos Estados Unidos e Canadá, a literatura da diáspora lusa começa por ser uma literatura migrante escrita principalmente em português, embora vários escritores migrantes tenham escrito parte da sua obra em inglês.
Esta literatura em português todavia possui bastante vigor, com escritores como Onésimo Teotónio Almeida, José Francisco Costa, nos Estados Unidos, e Eduardo Bettencourt Pinto, Irene Marques e Paulo da costa, entre outros, no Canadá. Com a diminuição ou cessação do fluxo migratório de Portugal, tanto para os Estados Unidos como para o Canadá, desde a década de 1990, porém, a língua predominante da literatura da diáspora lusa é a inglesa. Os seus cultivadores são luso-americanos e luso-canadianos cujas preocupações temáticas continuam a revelar um forte apego às raízes lusas. Uns quantos escritores migrantes - Alfred Lewis, Francisco Cota Fagundes, Irene Marques e paulo da costa escrevem em ambas as línguas.
A tradição literária dos Estados Unidos e Caraíbas, sobretudo Trinidad e Tobago, também inclui alguns nomes célebres cujas origens remontam, totalmente ou em parte, a Portugal. É este o caso da poeta sefardita Emma Lazarus (1849-1887), cujas origens remontam em parte a Portugal; do compositor de marchas John Philip Sousa (1854-1942); do romancista John Dos Passos (1896-1970), em cuja obra existem numerosos vestígios da sua origem lusa. Quatro importantes escritores trinidadianos - Alfred Hubert Mendes (1897-1991), Albert Gomes (1911-1978), Olga Cabral (1909-1997) e Elizabeth Nunez - são descendentes de madeirenses, facto esse que é de suma importância nas suas respetivas obras.
Para explicar a interação de fatores em Portugal e no Novo Mundo que explicam o desenvolvimento desta literatura, dividimo-la em seis gerações, algumas simultâneas, outras contíguas: a Geração Pré-Capelinhos; a Geração dos Capelinhos; a Geração Madeirense das Índias Ocidentais; a Geração do Cadinho Americano; a Geração Pós-Cadinho Americano ou Contemporânea; e a Geração Universitária Pós-25 de Abril.
Entre os fatores decisivos para a emigração de portugueses, temos, para dar apenas alguns exemplos, a Guerra Civil em Portugal em 1820; perseguições religiosas na Madeira, em meados do século XIX, juntamente com as calamidades associadas ao desastre da batata e dos vinhedos; para o País inteiro, temos os quase ininterruptos fatores push que ocasionaram a partida de 3,5 milhões de portugueses começando no século XVII até meados de 1974 - entre os principais, a pobreza endémica, um futuro sempre adiado, o abandono das massas à iliteracia.
Entre alguns dos principais fatores pull, mencionem-se, a título de exemplo, a Lei da Abolição nas Índias Ocidentais, a qual criaria numerosos postos de trabalho, em parte ocupados por açorianos e madeirenses; a influência da indústria da baleia começando em meados do século XVIII e prosseguindo ao longo de todo o século XIX; a subsequente criação de postos de trabalho com a concentração de açorianos e o desenvolvimento das vacarias no Vale de San Joaquin, na Califórnia e na indústria de pescas em San Diego; a indústria do algodão e da lã nos Estados da Nova Inglaterra, seguindo-se-lhe o trabalho em fábricas e na pesca; o acordo entre Portugal e Canadá para a ida de portugueses para aquele país da América do Norte, começando em 1953.
O lento desenvolvimento da literatura da diáspora lusa, sobretudo nos Estados Unidos, é influenciado ainda, e sobretudo, pelo baixo nível de literacia dos migrantes portugueses ao longo de quase todo o grande período migratório, desde meados do século XIX até à década de 1960; as leis da emigração nos Estados Unidos que ao longo dum longo período discriminaram contra povos sul-europeus, incluindo o português. Como é sabido, essas leis discriminatórias só foram suspensas no final da década de 1950, devido à erupção do vulcão dos Capelinhos, na ilha do Faial, Açores.
Só por volta da década de 1980, se dá, nos Estados Unidos, um surto educacional por parte de filhos de migrantes portugueses, que começam a frequentar o ensino superior em números significativos. O surto na literatura da diáspora lusa, em língua inglesa, segue-se em parte a essa geração. O facto de um grupo, pequeno mas significativo, de migrantes portugueses enquadráveis na Geração dos Capelinhos, vários com cursos superiores ou pelo menos cursos secundários adquiridos no seminário, também vieram engrossar as fileiras de gente instruída que impulsionaria a literatura da diáspora, tendo vários dos membros da Geração dos Capelinhos feito doutoramentos nos Estados Unidos e adquirido colocações em universidades na Costa Leste e Oeste.
Com base na Bibliografia de Obras Primárias aqui reunida, cerca de 200 indivíduos, entre migrantes e seus descendentes, assinaram livros de criação literária, a maioria constituindo coleções de poesia, mas também autobiografias, romances, coletâneas de contos, obras teatrais. Nem todos esses nomes integram aquilo que se poderia designar por um corpus literário de alta qualidade estética.
A esmagadora maioria desse corpus interessa-nos pelo seu valor histórico, social, antropológico - como documentos da nossa passagem por estas paragens como elementos duma diáspora que seria uma tragédia não documentar ou perder. Isto não quer dizer, porém, que não haja entre esse grupo de duas centenas de indivíduos, uns 20 ou 30 por cento que não tenham escrito, e estejam a escrever, obras de qualidade literária. Acentue-se, porém, que o que nos motivou a escrever este livro não foi o valor estético que essa literatura possa possuir, embora estejamos convencidos que parte dela a possui. Interessou-nos, sobretudo, o seu valor documental e humano.
Esta literatura em português todavia possui bastante vigor, com escritores como Onésimo Teotónio Almeida, José Francisco Costa, nos Estados Unidos, e Eduardo Bettencourt Pinto, Irene Marques e Paulo da costa, entre outros, no Canadá. Com a diminuição ou cessação do fluxo migratório de Portugal, tanto para os Estados Unidos como para o Canadá, desde a década de 1990, porém, a língua predominante da literatura da diáspora lusa é a inglesa. Os seus cultivadores são luso-americanos e luso-canadianos cujas preocupações temáticas continuam a revelar um forte apego às raízes lusas. Uns quantos escritores migrantes - Alfred Lewis, Francisco Cota Fagundes, Irene Marques e paulo da costa escrevem em ambas as línguas.
A tradição literária dos Estados Unidos e Caraíbas, sobretudo Trinidad e Tobago, também inclui alguns nomes célebres cujas origens remontam, totalmente ou em parte, a Portugal. É este o caso da poeta sefardita Emma Lazarus (1849-1887), cujas origens remontam em parte a Portugal; do compositor de marchas John Philip Sousa (1854-1942); do romancista John Dos Passos (1896-1970), em cuja obra existem numerosos vestígios da sua origem lusa. Quatro importantes escritores trinidadianos - Alfred Hubert Mendes (1897-1991), Albert Gomes (1911-1978), Olga Cabral (1909-1997) e Elizabeth Nunez - são descendentes de madeirenses, facto esse que é de suma importância nas suas respetivas obras.
Para explicar a interação de fatores em Portugal e no Novo Mundo que explicam o desenvolvimento desta literatura, dividimo-la em seis gerações, algumas simultâneas, outras contíguas: a Geração Pré-Capelinhos; a Geração dos Capelinhos; a Geração Madeirense das Índias Ocidentais; a Geração do Cadinho Americano; a Geração Pós-Cadinho Americano ou Contemporânea; e a Geração Universitária Pós-25 de Abril.
Entre os fatores decisivos para a emigração de portugueses, temos, para dar apenas alguns exemplos, a Guerra Civil em Portugal em 1820; perseguições religiosas na Madeira, em meados do século XIX, juntamente com as calamidades associadas ao desastre da batata e dos vinhedos; para o País inteiro, temos os quase ininterruptos fatores push que ocasionaram a partida de 3,5 milhões de portugueses começando no século XVII até meados de 1974 - entre os principais, a pobreza endémica, um futuro sempre adiado, o abandono das massas à iliteracia.
Entre alguns dos principais fatores pull, mencionem-se, a título de exemplo, a Lei da Abolição nas Índias Ocidentais, a qual criaria numerosos postos de trabalho, em parte ocupados por açorianos e madeirenses; a influência da indústria da baleia começando em meados do século XVIII e prosseguindo ao longo de todo o século XIX; a subsequente criação de postos de trabalho com a concentração de açorianos e o desenvolvimento das vacarias no Vale de San Joaquin, na Califórnia e na indústria de pescas em San Diego; a indústria do algodão e da lã nos Estados da Nova Inglaterra, seguindo-se-lhe o trabalho em fábricas e na pesca; o acordo entre Portugal e Canadá para a ida de portugueses para aquele país da América do Norte, começando em 1953.
O lento desenvolvimento da literatura da diáspora lusa, sobretudo nos Estados Unidos, é influenciado ainda, e sobretudo, pelo baixo nível de literacia dos migrantes portugueses ao longo de quase todo o grande período migratório, desde meados do século XIX até à década de 1960; as leis da emigração nos Estados Unidos que ao longo dum longo período discriminaram contra povos sul-europeus, incluindo o português. Como é sabido, essas leis discriminatórias só foram suspensas no final da década de 1950, devido à erupção do vulcão dos Capelinhos, na ilha do Faial, Açores.
Só por volta da década de 1980, se dá, nos Estados Unidos, um surto educacional por parte de filhos de migrantes portugueses, que começam a frequentar o ensino superior em números significativos. O surto na literatura da diáspora lusa, em língua inglesa, segue-se em parte a essa geração. O facto de um grupo, pequeno mas significativo, de migrantes portugueses enquadráveis na Geração dos Capelinhos, vários com cursos superiores ou pelo menos cursos secundários adquiridos no seminário, também vieram engrossar as fileiras de gente instruída que impulsionaria a literatura da diáspora, tendo vários dos membros da Geração dos Capelinhos feito doutoramentos nos Estados Unidos e adquirido colocações em universidades na Costa Leste e Oeste.
Com base na Bibliografia de Obras Primárias aqui reunida, cerca de 200 indivíduos, entre migrantes e seus descendentes, assinaram livros de criação literária, a maioria constituindo coleções de poesia, mas também autobiografias, romances, coletâneas de contos, obras teatrais. Nem todos esses nomes integram aquilo que se poderia designar por um corpus literário de alta qualidade estética.
A esmagadora maioria desse corpus interessa-nos pelo seu valor histórico, social, antropológico - como documentos da nossa passagem por estas paragens como elementos duma diáspora que seria uma tragédia não documentar ou perder. Isto não quer dizer, porém, que não haja entre esse grupo de duas centenas de indivíduos, uns 20 ou 30 por cento que não tenham escrito, e estejam a escrever, obras de qualidade literária. Acentue-se, porém, que o que nos motivou a escrever este livro não foi o valor estético que essa literatura possa possuir, embora estejamos convencidos que parte dela a possui. Interessou-nos, sobretudo, o seu valor documental e humano.
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