«À pergunta da prima Maura, com a acuidade e contundência tipicamente micaelense… "para que queres tu saber disso?" não soube logo que responder!...tinhas toda a razão em querer saber… eu é que ainda não sabia, nem sabia ser era capaz de contar a mim própria como foi!" … conhecendo os factos, os acontecimentos as pessoas, as datas e os lugares, posso descobrir conexões, consequências, intuir motivações, interdependências, e afectos reais e não ficcionados! Só a partir da realidade estruturada dos factos principais que me foram relatados, me foi possível tentar, com legitimidade, entretecer sobre ela o tecido ficcionado do que desconhecemos. "Se memória desta vida se consente", e muitos de vós que me antepassastes o admitíeis, tal como eu admito, imagino agora que sobre o meu ombro e sobre esta dedicatória/invocatória se debruçam os vossos sorrisos benevolentes, o vosso franzir de sobrancelhas surpreendidos e incrédulos de tamanho atrevimento, expressões de curiosidade e de impaciência, abanares de cabeça dos que discordam ou acenares de assentimento dos que reconhecem como sua, a curiosidade e determinação que anima esta vossa filha, neta, bisneta, trineta, tetraneta e prima em todos os graus, todos eles também a quererem saber como foi! Que assim seja!»

[Ana Carreiro Salta (excerto da Dedicatória/Invocatória)]