Ahmadou Kourouma
Biografia
Quando a Costa do Marfim se tornou independente em 1960, Kourouma regressou ao seu país para descobrir que o governo de Houphouet Boigny considerava-o um inimigo, mandando-o prender. Mudou-se para a Argélia, voltando em 1969, Houphouet Boigny nomeou-o para cargos administrativos nos Camarões e no Togo, bem longe da Costa do Marfim. Kourouma tentou escrever uma peça, mas foi proibida e nunca publicada.
O seu primeiro romance Le soleil des indépendances (1968) passava-se em dois países africanos, facilmente identificáveis como Costa do Marfim e Guiné. Tinham-se tornado independentes, reduzindo um príncipe Malinké à condição de pedinte sob o regime de partido único Houphouet Boigny e Sekou Touré, "grandes senhores da independência".
Em 1990, publicou o seu segundo livro, Monné, outrages et défis, que descrevia as conquistas francesas em África e procurava demonstrar como as doenças advinham desse período. Apesar de não ter sido um grande sucesso, ganhou o Nouveaux Droits de l'Homme, bem como mais 17 prémios literários. Em 1998, En attendant le vote des bêtes sauvages teve grandes vendas em África, algo pouco usual nesse Continente. Em 2000, Alá Não É Obrigado foi galardoado com o Prémio Renadout e o Prémio Gouncourt des lycéens.
Quando problemas internos levaram a uma guerra civil na Costa do Marfim, regressou a Lyon. Autor de nove livros infantis, Kourouma prometeu às suas filhas que escreveria mais sobre as crianças do seu país. Faleceu em França em Dezembro de 2003.
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Alá Não É Obrigado
Prémio Goncourt des lycéens.
"Alá Não é Obrigado" é uma obra tão peculiar quanto o seu protagonista e narrador, Birahima, uma criança-soldado que assiste à morte da mãe e que, para sobreviver, sai da sua aldeia em busca da tia, a única pessoa que pode cuidar dele. Da Costa do Marfim à Serra Leoa, passando pela Libéria, este órfão de "dez ou doze anos" irá passar por diversos exércitos de guerrilheiros, cujos líderes constituem uma riquíssima paleta de personagens, inesquecíveis pelas piores razões: há loucos e sádicos, psicopatas e figuras ridículas. A traição, a morte, a tortura e a mutilação são lugares-comuns por aquelas paragens. O próprio Birahima não é inocente nem culpado: é apenas uma criança que já viu demasiada violência e morte e de quem, à partida, se poderá pensar já não possuir qualquer noção do bem e do mal. Mas Birahima ainda consegue fazer essa distinção; só que as suas principais preocupações prendem-se com coisas tão fundamentais como sobreviver, alimentar-se, encontrar um sítio para viver e, acima de tudo, evitar ser assassinado.
"Alá Não é Obrigado" é um livro duro, poderoso, intenso, escrito por um autor que muito nos disse sobre a África contemporânea: as estranhas alianças entre chefes de Estado respeitáveis e criminosos de renome, a corrupção generalizada, a culpa, as boas intenções e as dificuldades das Nações Unidas e os desvios sofridos pelos mantimentos enviados pelas organizações não-governamentais. Em suma, uma realidade terrível que o autor nos descreve pela voz inesquecível de uma criança.