Story Case Print
de Né Barros e Cesário Alves
Sobre o livro
Diz um ditado do deserto que um homem viaja sempre à frente de si mesmo. Lá, na solidão, somos sempre sombras banhadas pelos astros. Ora o sol nos fita de perto, esbraseando-nos, ora lua e estrelas nos olham desde o firmamento, esmagando a nossa pequenez com sua luz distante. As areias são um mar de tempo, ilimitado mas finito, à imagem do cosmos. Avançam e recuam, caprichosamente, sem destino conhecido. Porém, como dizem os tuaregues, no fim da areia há sempre uma montanha. Jogos de luzes, sombras e ventos descobrem seios e torsos de dunas que o beduíno transforma em poesia. É um domínio encantado, mais do que lar, porque, para os beduínos, a casa é o túmulo dos vivos. No deserto nunca paramos. Mesmo se detemos o olhar buscam-se horizontes de oásis e miragens. Lá somos fragilidade em movimento mas, além da nossa dimensão, alcançamos outra, mais serena e alta. Essa flor que, sem o ser, é desolação, como o aloendro que se agarra aos seixos dos uedes: brota a consciência de sermos mais um grão apenas, à beira de se volver em pó. Quanto vemos ou sentimos não passa de edição do olhar sobre o avistado, a par das visões que outros seres experimentam na lonjura.