Programação Linear Multiobjectivo
Do Modelo de Programação Linear Clássico à Consideração Explícita de Várias Funções objectivo
de Carlos Henggeler Antunes, Maria João Gomes Alves e João Namorado Clímaco
Sobre o livro
Na investigação operacional clássica as preferências dos agentes de decisão são modeladas à priori, isto é, todos os valores aparecem agregados numa função objectivo (ou critério) única(o), pretendendo-se determinar a solução óptima para o problema em estudo. A convicção de que se podem utilizar, de forma mais ou menos generalizada, modelos deste tipo é, para além do mais, urna imagem ideológica duma certa visão do mundo. A título de exemplo, referimos um texto de Frank Rich (1999), que apareceu numa publicação especial do New York Times dedicada ao "Melhor do Milénio". Diz o autor a dado passo: "Temos tendência para esquecer que quase todas as nossas noções para medir, catalogar e quantificar o melhor são relativamente recentes... . Foi no século XX, e especialmente no século XX americano, que a nossa incessante sede de classificar quase tudo se transformou num empreendimento cultural que raia a obsessão... . O impulso que nos leva a fazer listas e catálogos do Melhor é muito compreensível neste fin de siècle. Vivemos num tempo em que o volume do que sabemos sobre o Universo é mais do que conseguimos absorver, e o desesperado desejo de o perceber é uma das nossas ansiedades milenares... . Não admira que nos agarremos mais do que nunca à ideia do Melhor - simultaneamente como âncora e como radar, mesmo que se discorde mais do que nunca sobre o que significa".
Todavia, é hoje reconhecido por diversas correntes de opinião que a investigação operacional clássica é demasiado redutora, sendo inadequada à abordagem de muitos problemas reais. Num contexto muito amplo, já em 1980, Edgar Morin escrevia em La Méthode: "se a optimização comporta a integração de desordens, incertezas, especulações, concorrências, antagonismos, então, uma tal optimização comporta o inoptimizável...". Uma das vias mais promissoras para superar a racionalidade optimizante em investigação operacional consiste no estudo de modelos em que se consideram explicitamente critérios múltiplos e conflituosos entre si. Este é um terna de grande actualidade e importância, dado que a realidade é intrinsecamente rnulti-dimensional, sendo em muitos casos redutoras as aproximações monocritério.
Este livro é dedicado à generalização para multicritério de um dos assuntos mais estudados em cursos de investigação operacional, isto é, a programação linear. Em programação linear multicritério os modelos traduzem apenas parcialmente a agregação de preferências do agente de decisão, deixando para análise posterior as opções mais controversas conducentes à tomada de decisões. Tratando-se de um texto de carácter pedagógico destinado a alunos, decidimos dedicar a primeira parte ao estudo dos principais resultados da programação linear, aparecendo o caso multicritério como uma extensão natural do primeiro, permitindo fazer o contraponto entre o carácter normativo do modelo monocritério e a simbiose entre aspectos quantitativos e subjectivos que, de uma forma ou de outra, aparece nos procedimentos interactivos dedicados à programação linear multiobjectivo (ou multicritério), que constituem o núcleo central deste texto. Nesta parte do trabalho dá-se conta dos avanços de natureza metodológica e do desenvolvimento de software e aplicações, decorrentes do trabalho de investigação e desenvolvimento, que realizámos na Universidade e no INESC, em Coimbra. Presta-se especial atenção ao interface Ser Humano-Computador. Para que o leitor possa usufruir de forma mais completa deste livro, o pacote de software TRIMAP encontra-se disponível através do sítio do INESC-Coimbra, a saber: www.inescc.pt.
O livro destina-se essencialmente a cursos de graduação e pós-graduação nas várias áreas da engenharia e em gestão. É convicção dos autores que a análise multicritério é um tópico indispensável no ensino da investigação operacional, nomeadamente porque permite integrar, num mesmo método, aspectos quantitativos e aspectos subjectivos associados ao estabelecimento de preferências do agente de decisão.