Poemas em Prosa
de Oscar Wilde
Sobre o livro
Esta é a primeira tradução que se faz destes poemas que são dos mais elucidativos exemplos da escrita e ideologia de Wilde.
Reflexo de um cruzamento de doutrinas filosóficas e correntes literárias inovadoras que tendem a propagar-se com a proximidade dos fins de épocas, os escritos de Wilde são, na sua generalidade, frutos de um espírito subversivo e agitador. Como Possidónio Cachapa tão bem o reconhece na sua nota de introdução, as afinidades entre a época de Wilde e a nossa são inúmeras e a actualidade do mais polémico autor de todas as épocas está tão viva como sempre.
Neste volume coligem-se esses poemas em prosa, tão próximos dos produzidos pelos autores do simbolismo francês e tão únicos e individuais como só Wilde poderia escrever. Incluem-se de igual modo um conjunto de máximas que elucidam e completam as posições do movimento estéticista como Wilde o perspectivava.
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Nestes seus poemas em prosa, que Possidónio Cachapa traduziu com muita sensibilidade, em perfeita sintonia com o espírito de Wilde, palpita o temperamento lírico do autor (...), envolto na sua cultura, numa curiosa mescla de paganismo e evocações bíblicas, sempre com o gosto requintado, a dourada perversidade do apaixonado que ele foi, como o foi a sua geração...
da Introdução de Urbano Tavares Rodrigues
Ressuscitado hoje, nestes neo-vitorianos dias, tão hipócritas e dissolutos como os originais, Oscar Wilde teria de ser silenciado de novo. Que é calando as vozes que nos interpelam que se constrói sempre a história da decadência humana.
da "Nota do Traditore" de Possidónio Cachapa
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Este livro faz parte de um projecto abrangente que visa unir, através dos laços possíveis entre o texto original e a sua tradução, um autor clássico consagrado a um jovem escritor contemporâneo. União de facto, tanto mais que se procura não propriamente uma tradução literal, mas uma tradução o mais livre possível. Uma adaptação que apenas o distanciamento da leitura permita encontrar afinidades, percursos, ou somente deslumbramento e tributo; enriquecendo por via do confronto e da identificação. A ideia, portanto, é criar um jogo a duas mãos, entre original e adaptação, entre autores e épocas, entre escrita e leitura. Aqui o prefácio de Urbano Tavares Rodrigues, transportando um profundo conhecimento académico mas cruzando-o com a sensibilidade que lhe é reconhecida, faz a ponte de ligação entre estes dois mundos.
Estes seis curtos poemas em prosa de Oscar Wilde, inéditos entre nós, podem confundir-se com contos ou alegorias de estilo ensaístico e constituem uma clara declaração dos princípios criativos deste autor. A tradução/traição de Possidónio Cachapa, porta-estandarte da jovem geração da literatura portuguesa, subverte-lhes a ordem e refresca o seu conteúdo.