Não Pagamos ao Palhaço!
de Pedro Monteiro e Rodrigo Monteiro
Grátis
Sobre o livro
Manifestos quase honestos
Este livro é um conjunto de pequenos exercícios de sátira social, manifestos quase honestos, pedaços de prosa em que vertemos sorumbáticos queixumes e estremunhados delírios, procurando tornar risível o irritante.
Neles misturamos referências actuais e familiares com outras mais estranhas e passadistas, num exercício que raia ora o absurdo, ora o absinto. Mais críticos do que criteriosos, ousámos avançar com algumas propostas. Aparentemente imaginativas, é certo, mas indisfarçavelmente inúteis.
Citando Luiz Pacheco a citar António Maria Lisboa: Criticar, eis a nossa função positiva.
O seguidismo reinante leva cada vez mais portugueses a invadirem o Algarve no mesmo fim-de-semana, a falarem do mesmo programa televisivo, a repetirem a mesma piada, a trautearem o mesmo refrão… Como se não houvesse outro destino de férias, outro entretenimento, outra tirada humorística, outra canção…
Numa prova da crescente falta de exigência que vai assolando o país, o pai nunca deixa de pagar ao palhaço da festa do filho, mesmo que este não tenha tido graça nenhuma. Mas se o palhaço não se esforçou por fazer rir, não deve ser pago. Principalmente se não fez rir as crianças, porque o mínimo que se espera de um palhaço é que faça rir as crianças.
Paralisados pelo conforto do que temos e a incerteza do que queremos, somos todos coniventes com a inércia da mera aceitação, a acomodação à mediocridade (tão familiar e caseira), o choco ressentimento, a mesquinha inveja de vizinho… Nesse sentido, toda a sátira social é, até certo ponto, desonesta. Coisas da liberdade de expressão, que permite a qualquer um escarnecer de borbulha alheia, esquecido das próprias verrugas.
Na escrita deste livro, moveu-nos um modesto objectivo: libertar algumas indignações e perplexidades. O que acabou por se revelar útil, evitando que saíssemos por aí a distribuir bofetada.
Decididamente, um bom livro para arrumar na estante da garagem.
Coimbra, Fevereiro de 2006