Inês, a Dualidade de uma Vida
de Telmo Nunes
Sobre o livro
De dia, vivenciava a fantástica, cativante, reluzente, frenética e agitada vida londrina; de noite, e de volta aos arrabaldes, a displicência do negrume em torno da sua casa nos arredores de Chelsea. Em tudo a sua nova condição lhe lembrava o que para trás deixara. Por momentos, naquelas alturas mais intimistas, quase depressivas, dava-se conta de que aquilo que mudara não fora mais do que a troca de horários. A penumbra eclodia. Instantes houve em que sentia que mantinha as mesmas vidas paralelas, a dualidade que a perseguia desde sempre, com a única diferença de que agora podia esvoaçar, ser livre durante o dia, podia ser ela própria à luz do mundo, sentindo a opressão, o afogo, o desespero pela noite adentro, ao contrário do que fora na casa de sua mãe, já que lá, só com a obscuridade da noite, é que se libertava.