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Sobre o livro
«Será este povo português verdadeiramente religioso? Ou a religião é para ele apenas uma tradição ou, pior ainda, um hábito? Será a prática religiosa uma oportunidade de participar na essência do divino ou apenas uma cerimónia colectiva em que se participa, por imposição ou por conveniência social?
Impressionou-me muito o facto de um homem que eu sempre conheci ateu (e não apenas agnóstico), aparecer nos jornais, quando da sua morte, devidamente anunciado na página dos óbitos, com uma cruz a encimar o comunicado da família que estava subtitulado com o cuidadoso slogan Confortado com todos os sacramentos da Santa Madre Igreja. Nada me garante que esse conforto tenha sido solicitado pelo próprio, num súbito e prudente acesso de religiosidade ante-mortem. Ou seria antes a extremosa família que, numa atitude socialmente correcta, decidiu fazer regressar ao redil cristão o trânsfuga dos sacramentos, atitude aparentemente aceite pela sociedade como razoável, já que assim assegurou post-mortem a salvação da ovelha tresmalhada do grande rebanho católico?
Assaltado por estas dúvidas, extraí da minha memória alguns episódios que dão, da religiosidade dos meus compatriotas, uma imagem que a apresenta como lamentavelmente subserviente, interesseira e calculista… »