Génese Seguido de Constelações
de António Ramos Rosa
Sobre o livro
Ano novo, colecção nova, dirigida por Casimiro de Brito. Pequenos livros, grandes nomes nacionais e estrangeiros. A abrir, António Ramos Rosa, com o peso do seu nome e da sua idade, ao celebrar os 80! António Ramos Rosa desenha novamente os contornos da "esfera subtil que é talvez o domínio da divindade liberta". Génese toma lugar entre os poemas para o nosso tempo. Como um salmo ou um adágio no qual a lentidão é uma condição para o encontro com uma "coisa amada deliciosamente nua". Oferta do mundo "da beleza do mais perfeito e do mais doce ser".
Constelações oferece uma calma do sétimo dia. Um silêncio como a graça de uma continuidade. Nisso este texto é irmão de Génese. Ele relata não a transcendência mas a imanência do mundo criado a qual é impossível encerrar no real ou com o real. A finitude, as carências são as nossas fontes, uma "incessante germinação... horizonte novo". Sem emitir uma qualquer mensagem, a obra de António Ramos Rosa cintila no "jogo... universal".
É a poesia, enquanto liberdade livre, que mais uma vez aqui se evoca, numa poderosa linguagem onde metáforas e imagens se confundem, em estado puro, com o reflexo e a reflexão da realidade. Porque a poesia de Ramos Rosa, ainda que por vezes pareça meramente contemplativa, é mormente reflexiva. Ou, se quisermos, é uma poesia onde contemplação e reflexão são uma e a mesma coisa. Daí as permanentes interrogações sobre aquilo que se vê, já não pelo sentido físico de ver, mas pelo sentido ontológico de escutar nas coisas o invisível, o improvável.