Escritos de São João
de Joaquim Carreira das Neves
Sobre o livro
Jesus de Nazaré é acreditado como Messias, Senhor, Filho de Deus e Deus com Deus desde há dois mil anos para cristãos católicos, ortodoxos e protestantes. Ele nada escreveu nem mandou escrever. Não possuímos um único texto sobre a sua pessoa escrito durante a sua vida histórica. O que sabemos é fruto da pregação e ensinamento cristão de apóstolos e discípulos. Da pessoa messiânica e salvadora de Jesus sobressaem três correntes histórico-teológicas: Paulo, Sinópticos e João. A mais «estranha», especulativa e teológica, é a de João, presente no Evangelho e nas Cartas. Jesus é o Logos-Palavra-Deus que veio do Pai (pré-existência), viveu entre nós (co-existência) e voltou ao Pai (glorificação). A sua pregação e vida histórica, segundo João, constitui um juízo para o mundo, porque só Ele é o Exegeta, testemunho e Revelador final do Pai (1, 1-18). Com Ele estabelece-se a escatologia realizada, mas, mesmo assim, a última Palavra é a do Espírito-Paráclito que, através das vicissitudes da história, o vai manifestando até à consumação dos tempos. As diferenças deste Jesus joânico em relação ao dos Sinópticos e Paulo são enormes. Nem admira porque a grandeza de Jesus provém da sua história e do seu mistério. O seu mar é alimentado pelas três grandes correntes-rios já aludidas, e a corrente joânica é a mais elevada e espiritual: o Eu joânico ("Eu sou a luz do mundo"; "Eu sou a ressurreição e a vida"; "Eu sou o caminho, a verdade e a vida"; "Se não acreditardes que Eu sou aquele que sou, morrereis nos vossos pecados"), sua relação permanente com o Pai, intimidade com os discípulos, sinais-milagres, ceia de «despedida», morte de glorificação «pascal», apresentam-nos um mundo semiótico de Alguém difícil de compreender apenas por processos de pura racionalidade. É esta a razão dos gnósticos - os de ontem e os de hoje - fundamentados em João, apresentarem o Cristo (não Jesus) celeste a usar do Jesus terrestre, desde o baptismo até à paixão, para comunicar a gnose salvadora do Cristo-Eon celeste que desaparece na cruz. Como compreender este Jesus joânico e esta comunidade-igreja joânica?