Entre a Terra e o Céu
de Fernanda Pimentel
Sobre o livro
Amadeu olhou uma vez mais a árvore que crescera consigo: lá estava digna e ferida, apontando o céu.
Ao longe, mal apercebia o golpe fundo, aberto no tronco, pela fúria do seu chicote; mas o sentimento de perda atormentava-o.
- Nada impedirá a sua morte.
Ele virou-se na direção daquela voz, mas não viu ninguém; procurou-a nas águas da pequena ribeira que atravessava a propriedade; mas não a encontrou.
Decidia-se a regressar a casa, quando, encaminhando-se para a árvore, alguma coisa tomava forma, depois perdia-a, depois retomava-a, depois perdia-a; às vezes era uma mulher alta, vestida de negro; outras, um homem forte de cutelo na mão.
Ficou, numa espera aflita…, porém, ao acercar-se da árvore, a forma dissolveu-se e a angústia cerrada, que lhe oprimia a garganta, libertou-se.
Passados dias, a seiva parecia contida; a ferida fechara-se - a árvore continuava o seu destino de árvore. E Amadeu esforçava-se por afastar o seu destino do dela: não mais a iria punir pelo mal que ele fazia.