Dos Deveres (De Officiis)
de Cícero
Sobre o livro
Este tratado é constituído por três livros dos quais só nos restam fragmentos.
Para os dois primeiros livros, Cícero inspirou-se em parte no Tratado dos deveres do filósofo estoico Panécio de Rodes. Existe uma hierarquia dos deveres e é necessário saber escolher um mais do que outro para preservar a sua honra. o principal é respeitar a honestidade fundada na prática das virtudes essenciais: a sabedoria, a justiça, a firmeza, a moderação. Uma vez que há um conflito aparente entre a justiça e a moderação, a noção de escolha intervém (livro I).
Cícero demonstra em seguida que as noções de utilidade e de honestidade são indissociáveis: se o útil se torna nocivo a alguém, então deixa de ser honesto.
Em caso de escolha, é preciso preferir o que apresenta mais utilidade (livro II).
No último livro, Cícero inova em relação ao seu modelo, Panécio; supõe um eventual conflito entre o útil e o honesto. Este conflito não é mais do que teórico já que, de facto, tudo o que é bom e honesto é igualmente útil, e vice-versa. Mas é preciso saber distinguir o útil aparente do útil real; o primeiro, mal definido, é gerador de confusão e de discórdia; o segundo, só, continua de acordo com a honestidade.
Cícero dedicou este tratado ao seu filho Marcus que tinha partido para continuar os seus estudos de filosofia para Atenas em 45 a.C. Também o forte amor paternal do autor transparece.
Entretanto ele prevê eventuais objecções do seu filho e refuta-as: os seus preceitos devem ser aceites e seguidos. Abandonando o diálogo e o estilo pomposo e ambicioso, Cícero dirige-se ao leitor num tom simples e confidencial.