Sobre o livro
Choque de Ortodoxias de Robert P. George é um importante contributo para a reavaliação crítica de uma visão do mundo comummente associada à modernidade, sobretudo na sua versão europeia continental, e às democracias liberais. O autor designa-a por "ortodoxia secularista", definindo-a como a estrita separação entre a fé e o espaço público.
Robert P. George desafia esta visão do mundo e sustenta a superioridade racional da tradição religiosa, moral e filosófica judaico-cristã. Esta superioridade, argumenta, pode ser justificada em termos puramente filosóficos, em dois planos fundamentais: no plano da capacidade de equacionar e propor respostas para importantes problemas ético-políticos contemporâneos (como sejam os do aborto, eutanásia, casamento, para citar apenas os mais conhecidos); e no plano da própria justificação e defesa da democracia liberal. O autor escreve simultaneamente como cristão, católico, e como filósofo moral, aliás amplamente reconhecido e respeitado na comunidade académica anglo-americana.
A "ortodoxia secularista procura erigir-se em única doutrina oficial do Estado demo-liberal, excluindo do debate público todas as concepções particulares do bem que desejem utilizar argumentos morais para justificar os seus pontos de vista, ou criticar os opostos. É necessário, pois, reabrir o inquérito livre e aberto sobre os fundamentos da liberdade do Ocidente, redescobrindo a conversação entre a filosofia política clássica e a tradição judaico-cristã, entre Atenas, Roma e Jerusalém, que em boa verdade inspiram e sustentam as modernas democracias liberais.
João Carlos Espada