Mísia, nome artístico de Susana Maria Alfonso de Aguiar, foi uma renomada cantora de fado portuguesa, nascida a 18 de junho de 1955 no Porto e falecida a 27 de julho de 2024. Conhecida por revitalizar o fado, mantendo as suas raízes tradicionais enquanto introduzia elementos modernos e contemporâneos, Mísia tornou-se uma das vozes mais importantes do fado contemporâneo, tanto em Portugal como internacionalmente.
Filha de mãe catalã e pai português, Mísia cresceu num ambiente onde a música estava sempre presente, influenciando-a desde cedo. Ela começou a sua carreira artística como bailarina e cantora em Espanha, onde viveu durante alguns anos. No entanto, foi ao retornar a Portugal que encontrou a sua verdadeira vocação no fado, um género musical que mistura emoção profunda com uma rica herança cultural.
O seu álbum de estreia, Mísia, foi lançado em 1991 e marcou o início de uma carreira que redefiniu o fado para uma nova geração. Neste álbum, Mísia já mostrava o seu estilo único, combinando a melancolia e a paixão do fado tradicional com arranjos musicais contemporâneos e letras que refletiam tanto a poesia clássica quanto temas modernos. A sua voz distinta, marcada por uma intensidade emocional e uma interpretação profundamente pessoal, rapidamente a destacou no cenário musical português.
Nos anos seguintes, Mísia lançou uma série de álbuns que continuaram a explorar e expandir as fronteiras do fado. Em Tanto Menos, Tanto Mais (1995), por exemplo, ela incorporou elementos de tango, bolero e música clássica, enquanto se mantinha fiel às raízes do fado. Este álbum, assim como os que se seguiram, recebeu aclamação da crítica e ajudou a estabelecer Mísia como uma das artistas mais inovadoras no panorama da música portuguesa.
O álbum Garras dos Sentidos (1998) foi outro marco na carreira de Mísia. Com letras escritas por alguns dos maiores poetas portugueses contemporâneos, incluindo Agustina Bessa-Luís e José Saramago, este álbum reforçou o compromisso de Mísia em preservar e celebrar a tradição literária do fado. Ao mesmo tempo, ela introduziu novos elementos que tornaram o género acessível a um público mais amplo e internacional.
Em 2003, Mísia lançou Canto, um álbum profundamente pessoal que incluiu interpretações de canções tradicionais de fado e novos temas que abordavam temas como a saudade, a perda e o amor. Este álbum foi amplamente aclamado pela sua profundidade emocional e pela capacidade de Mísia de transmitir a essência do fado de uma maneira autêntica e inovadora.
Mísia também se destacou por colaborar com artistas de diferentes estilos musicais e de várias partes do mundo, o que trouxe novas influências para o seu trabalho e ajudou a promover o fado internacionalmente. Ao longo da sua carreira, ela trabalhou com músicos de renome e explorou diferentes géneros, sempre mantendo a sua identidade como fadista.
Em 2009, Mísia lançou Ruas, um álbum que refletiu sobre as ruas e os bairros de Lisboa, capturando a essência da cidade e a sua ligação intrínseca ao fado. Este álbum reforçou o papel de Mísia como uma cronista contemporânea do fado, explorando as histórias e as emoções da vida urbana portuguesa.
Ao longo da sua carreira, Mísia recebeu vários prémios e distinções, tanto em Portugal como no estrangeiro, incluindo a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, um dos maiores reconhecimentos atribuídos pelo governo português. A sua música continua a ser uma ponte entre o tradicional e o moderno, e ela é amplamente creditada por ter ajudado a revitalizar o fado, levando-o a novas audiências em todo o mundo.
Mísia foi mais do que uma cantora de fado; ela foi uma verdadeira artista que continuou a explorar as profundezas do género, trazendo novos significados e emoções às suas canções. A sua contribuição para a música portuguesa é imensa, e ela permaneceu uma figura central na perpetuação e renovação do fado, garantindo que este estilo musical, tão profundamente enraizado na cultura portuguesa, continue a evoluir e a prosperar.
O falecimento de Mísia a 27 de julho de 2024 marcou o fim de uma era na música portuguesa. No entanto, o seu legado perdura através das suas gravações e da influência que teve sobre várias gerações de fadistas e músicos. Mísia será sempre lembrada como uma das grandes embaixadoras do fado, uma artista que, com a sua voz e a sua arte, conseguiu tocar as almas de muitos em Portugal e no mundo.
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Amei