Os Marginais E Outros Contos
de João Melo
Sobre o livro
"A liberdade desejada e urdida em dias e noites de humilhações, raivas, sonhos, lutas e sacrifícios, chegara finalmente, rondada, porém, por ameaças poderosas. Mas também por limites, equívocos, paradoxos e ilusões, que a todos eles, embriagados que estavam pelo esplendor do tempo, era então interdito perceber. Insensatos, atreveram-se a pensar que tinham poder para, sozinhos, construir a pátria, sem reparar que a nação nascia fracturada. Na verdade, só muito mais tarde se depararam, estupefactos, com a crucial interrogação: como edificar a pátria sem a nação? Por isso, naqueles dias iniciais, recusaram-se a valorizar o facto de alguns terem partido para o outro lado do tempo, de onde regressaram montados na morte branca, brandindo as suas ridículas azagaias contra o futuro no qual não se reviam, não tanto porque o desejassem diferente, mas porque sonhavam todas as noites com um passado extraordinário e inexistente. Os factos, porém, não dependem de qualquer apreciação externa para, exaltantes ou depressivos, se imporem irrecusavelmente. A guerra espalhou-se, pois, pela terra inteira e o sangue manchou todos os rios, vales, montanhas e savanas da pátria embrionária".