Paul Nizan
Biografia
Paul Nizan, filho de um engenheiro ferroviário que irá inspirar o protagonista do seu romance Antoine Bloyé, nasceu em 1905 e conhece Jean-Paul Sartre no liceu. A amizade entre os dois será importantíssima para ambos, e não é raro escreverem personagens interpretadas como retratos mútuos, ou que na obra de um e outro existam temas que se refletem. Aos dezoito anos, começa a publicar poemas e ensaios em revistas, e Adém, Arábia, o seu primeiro texto de grande fôlego, surge numa primeira versão tinha Nizan vinte e cinco anos, na Revue Europe, sem o último capítulo, que um ano mais tarde acrescentará na edição em livro.
Quando entra na École Normale, sofre de depressão nervosa e nevralgia facial, manifestações de um fervilhamento mental comprovado na sua aguerrida expressão política e literária. Por influência familiar, começa por fazer parte do primeiro partido fascista francês, Le Faisceau, mas em 1927, depois de ler Lénine, ingressa no Partido Comunista. Antes disso, como pano de fundo para a sua transição política, terá Adém, no Iémen, para onde vai ser perceptor do filho de Antonin Besse, homem de negócios que fundou um império nessa cidade e que serve de referência para o Sr. C… deste livro. Regressa cheio de ódio, mas um ódio assumido, um ódio que pretende usar para o combate, constatando que a fuga não é solução: «farei um bom par com o ódio», e fez: este livro grita, fere. «Ele tinha querido desagradar», diz Sartre num prefácio umbiguista e auto-redentor de Adém, Arábia, vinte anos após a morte de Nizan e do esmerado apagamento da sua figura, tanto pelo Partido Comunista Francês, que abandona no seguimento do Pacto Germano-Soviético, como pela França, tão letal quanto a bala alemã que o liquidou em 1940. Louis Aragon e outros intelectuais comunistas esforçar-se-ão por o marcar como traidor; curiosamente, a traição, nos seus vários géneros, é um dos tópicos centrais da obra de Nizan. Ao longo desses vinte anos, Sartre, além de uma petição para o Partido Comunista Francês justificar as acusações que lançava sobre Nizan, não foi visto em grandes esforços para render justiça à figura do seu companheiro.
Em Adém, onde constatou que as relações humanas não se baseiam na humanidade, que nos relacionamos com as pessoas como com os objetos, Nizan encontra o mesmo que em Paris: a máquina do capitalismo. Há algum tempo que lidava mal com a sua origem pequeno-burguesa, e essa condição de raiz devia ser tida, já para si próprio, como uma certa traição a uma justiça social e humana: uma traição genética. Neste relato, Nizan está sempre a prever o futuro, pois está sempre a falar-nos de um presente podre e instalado, sobreposto e expansivo. Sartre, nesse prefácio, onde teima em não compreender o amigo: «Que necessidade tínhamos nós de uma Cassandra?» Como se as palavras de Nizan formassem uma realidade, quando na verdade surgiam de uma realidade. Fascinado pelo cinema, chegou a planear através dele preterir a literatura. Não foi talvez a tempo: tinha trinta e cinco anos quando morreu em combate, ao lado dos ingleses (Nizan era um anglófilo inveterado), durante a Segunda Guerra Mundial, no Castelo de Cocove, quase o dobro dos vinte anos com que começa a estalar este livro, mas ainda, aproveitando uma frase de Antoine Bloyé, a gritar «do lado da vida sem esperança». Também desse romance: «talvez a dor seja o mais animal dos sentimentos humanos». E este é um texto que porta a voz da dor, da revolta. Possuía na altura um manuscrito em fase bastante avançada, que um soldado enterrou e que ainda hoje se procura.
Quando entra na École Normale, sofre de depressão nervosa e nevralgia facial, manifestações de um fervilhamento mental comprovado na sua aguerrida expressão política e literária. Por influência familiar, começa por fazer parte do primeiro partido fascista francês, Le Faisceau, mas em 1927, depois de ler Lénine, ingressa no Partido Comunista. Antes disso, como pano de fundo para a sua transição política, terá Adém, no Iémen, para onde vai ser perceptor do filho de Antonin Besse, homem de negócios que fundou um império nessa cidade e que serve de referência para o Sr. C… deste livro. Regressa cheio de ódio, mas um ódio assumido, um ódio que pretende usar para o combate, constatando que a fuga não é solução: «farei um bom par com o ódio», e fez: este livro grita, fere. «Ele tinha querido desagradar», diz Sartre num prefácio umbiguista e auto-redentor de Adém, Arábia, vinte anos após a morte de Nizan e do esmerado apagamento da sua figura, tanto pelo Partido Comunista Francês, que abandona no seguimento do Pacto Germano-Soviético, como pela França, tão letal quanto a bala alemã que o liquidou em 1940. Louis Aragon e outros intelectuais comunistas esforçar-se-ão por o marcar como traidor; curiosamente, a traição, nos seus vários géneros, é um dos tópicos centrais da obra de Nizan. Ao longo desses vinte anos, Sartre, além de uma petição para o Partido Comunista Francês justificar as acusações que lançava sobre Nizan, não foi visto em grandes esforços para render justiça à figura do seu companheiro.
Em Adém, onde constatou que as relações humanas não se baseiam na humanidade, que nos relacionamos com as pessoas como com os objetos, Nizan encontra o mesmo que em Paris: a máquina do capitalismo. Há algum tempo que lidava mal com a sua origem pequeno-burguesa, e essa condição de raiz devia ser tida, já para si próprio, como uma certa traição a uma justiça social e humana: uma traição genética. Neste relato, Nizan está sempre a prever o futuro, pois está sempre a falar-nos de um presente podre e instalado, sobreposto e expansivo. Sartre, nesse prefácio, onde teima em não compreender o amigo: «Que necessidade tínhamos nós de uma Cassandra?» Como se as palavras de Nizan formassem uma realidade, quando na verdade surgiam de uma realidade. Fascinado pelo cinema, chegou a planear através dele preterir a literatura. Não foi talvez a tempo: tinha trinta e cinco anos quando morreu em combate, ao lado dos ingleses (Nizan era um anglófilo inveterado), durante a Segunda Guerra Mundial, no Castelo de Cocove, quase o dobro dos vinte anos com que começa a estalar este livro, mas ainda, aproveitando uma frase de Antoine Bloyé, a gritar «do lado da vida sem esperança». Também desse romance: «talvez a dor seja o mais animal dos sentimentos humanos». E este é um texto que porta a voz da dor, da revolta. Possuía na altura um manuscrito em fase bastante avançada, que um soldado enterrou e que ainda hoje se procura.
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