Nathanael West
Biografia
Nathanael West [1903-1940, escritor, dramaturgo e guionista americano] — um contador de histórias «visuais», um construtor da acção «vista» e dialogada, com lugar exíguo para os interregnos onde, em silêncio de diálogo, poderia passar-se a um aprofundamento psicológico das personagens, essas a que ele sabe conferir toda a espessura apenas com o que dizem e fazem, ou seja, propondo-nos qualquer coisa próxima de um cinema lido e realizado na mente de quem o lê. Foram características que o mostraram a Hollywood como trunfo apetecível […]. [Aníbal Fernandes]
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Um Milhão Conta Redonda ou Lemuel Pitkin a Desmantelar-se
Depois de Miss Lonelyhearts, [Nathanael] West cometeu outro desvio ao previsível como tema de romance, e foi a subversão de uma das mais queridas mitologias do país; a do self-made man que nenhum contratempo esmorece, que da pobreza honrada ascende aos muitos dólares do conforto milionário. Para este cometimento que veio a chamar-se Um Milhão Conta Redonda ou Lemuel Pitkin a Desmantelar-se (complicado título que substituiu America, America, o mesmo que Elia Kazan escolheria para o seu filme autobiográfico), West lembrou-se de Voltaire e da peregrinação de Candide, mas sobretudo de Horatio Alger, um autor de optimismos patrióticos que viveu entre 1832 e 1899 […].
As ameaças que West pressentia na actividade dos movimentos fascistas e no descontentamento político dos conservadores incitou-o a morder em Horatio Alger e na sua literatura de rasteiro patriotismo — a parodiar-lhe as ingenuidades de puritano de Massachusetts, os momentos de incontenção racista, os apelos «ao leitor amigo» para se condoer das personagens designadas por «nosso herói» e «nossa heroína» — e sob esta divertida superfície cometer as crueldades do «desmantelamento» físico de Pitkin, da escolha de Betty para uma das mulheres mais generosamente violadas da literatura americana, para criar um curioso Mr Whipple, ex-presidente dos Estados Unidos que todos estes malefícios justifica com a acção sub-reptícia dos judeus da banca internacional e dos sindicatos bolchevistas, inimigos os mais temíveis da América das Oportunidades.
As ameaças que West pressentia na actividade dos movimentos fascistas e no descontentamento político dos conservadores incitou-o a morder em Horatio Alger e na sua literatura de rasteiro patriotismo — a parodiar-lhe as ingenuidades de puritano de Massachusetts, os momentos de incontenção racista, os apelos «ao leitor amigo» para se condoer das personagens designadas por «nosso herói» e «nossa heroína» — e sob esta divertida superfície cometer as crueldades do «desmantelamento» físico de Pitkin, da escolha de Betty para uma das mulheres mais generosamente violadas da literatura americana, para criar um curioso Mr Whipple, ex-presidente dos Estados Unidos que todos estes malefícios justifica com a acção sub-reptícia dos judeus da banca internacional e dos sindicatos bolchevistas, inimigos os mais temíveis da América das Oportunidades.