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Ensaio ao Redor de Pereira Forjaz e Pereira Forjado
Este ensaio investiga uma história de ambição mal calculada que, a despeito de evidentes erros de construção, se converteu num caso de inesperado sucesso.
Não se debruçou exclusivamente sobre a crítica histórica dum entronque fantasioso. Procurou indicar pistas para que se tentasse compreender, à luz de sucessivos quadros de mentalidades, correspondentes a diversos ciclos económicos, e a diferentes períodos da estruturação duma sociedade de "nova fronteira", como foi possível aceder eficazmente a um estatuto local que, tudo apontava nesse sentido, viria a ser rapidamente desmascarado através da desmontagem dos seus postulados.
Se os Pereiro, povoadores da ilha do Faial, tivessem escolhido como mitologia familiar uma origem, mais ou menos plausível num tronco pouco documentado da baixa nobreza galega, ainda hoje os investigadores se poderiam encontrar na fase de ligar fiapos de informação desgarrada, porventura sem chegar a resultados convincentes.
Mas não foi esse o caso. Essa linhagem, que teve a capacidade de iniciar uma ininterrupta ascenção social a partir de ofícios relativamente subalternos, obtidos por aliança matrimonial, desde cedo reclamou um estatuto ímpar no seio da emergente nobreza das ilhas: nada menos do que uma inverosímil descendência por varonia do tronco dos condes da Feira (logo eles, exaustivamente referidos, individualizados e datados em fontes primárias), condimentada com uma ascendência feminina que os ligava à antiga linhagem Pereira de Lacerda, dos Morgados de Baleizão. As elites açorianas dos primeiros séculos do povoamento compartilhavam raízes comuns e a diferenciação social auxiliou uma estreita rede endogâmica dentro da qual o questionar os mitos fundacionais de uma linhagem constituía uma ameaça geral à coesão do estamento. Assim se explica que, a despeito da evidente mistificação em que assentava o seu entronque na alta nobreza de corte, ele tenha sido localmente aceite durante séculos. Mas demonstra também a fragilidade duma crítica histórica pouco empenhada na investigação, compreensão e desconstrução dos mitos genealógicos.
Não se debruçou exclusivamente sobre a crítica histórica dum entronque fantasioso. Procurou indicar pistas para que se tentasse compreender, à luz de sucessivos quadros de mentalidades, correspondentes a diversos ciclos económicos, e a diferentes períodos da estruturação duma sociedade de "nova fronteira", como foi possível aceder eficazmente a um estatuto local que, tudo apontava nesse sentido, viria a ser rapidamente desmascarado através da desmontagem dos seus postulados.
Se os Pereiro, povoadores da ilha do Faial, tivessem escolhido como mitologia familiar uma origem, mais ou menos plausível num tronco pouco documentado da baixa nobreza galega, ainda hoje os investigadores se poderiam encontrar na fase de ligar fiapos de informação desgarrada, porventura sem chegar a resultados convincentes.
Mas não foi esse o caso. Essa linhagem, que teve a capacidade de iniciar uma ininterrupta ascenção social a partir de ofícios relativamente subalternos, obtidos por aliança matrimonial, desde cedo reclamou um estatuto ímpar no seio da emergente nobreza das ilhas: nada menos do que uma inverosímil descendência por varonia do tronco dos condes da Feira (logo eles, exaustivamente referidos, individualizados e datados em fontes primárias), condimentada com uma ascendência feminina que os ligava à antiga linhagem Pereira de Lacerda, dos Morgados de Baleizão. As elites açorianas dos primeiros séculos do povoamento compartilhavam raízes comuns e a diferenciação social auxiliou uma estreita rede endogâmica dentro da qual o questionar os mitos fundacionais de uma linhagem constituía uma ameaça geral à coesão do estamento. Assim se explica que, a despeito da evidente mistificação em que assentava o seu entronque na alta nobreza de corte, ele tenha sido localmente aceite durante séculos. Mas demonstra também a fragilidade duma crítica histórica pouco empenhada na investigação, compreensão e desconstrução dos mitos genealógicos.