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Marcello Caetano
Quando António de Oliveira Salazar caiu da cadeira, Marcelo Caetano, há muito
apontado como o Delfim do regime, não hesitou. Chegara a sua hora de assumir
o cargo de presidente do Conselho, e sair definitivamente da sombra de Salazar,
um homem de quem muitas vezes discordara. Ao longo de três décadas, Salazar
afastara-o repetidamente do caminho do poder, mas, apesar disso, Marcelo
nunca o confrontou nem tentou derrubá-lo. Marcelo Caetano era um homem em
tudo diferente de Salazar. Gostava de conhecer o mundo e as pessoas e houve
quem, durante algum tempo, respirasse a sua «Primavera», na esperança de que
novos ventos soprassem em Portugal. Mas era tarde de mais. A 25 de Abril de
1974, o sonho do último presidente do Conselho caiu por terra. A jornalista
Manuela Goucha Soares, faz uma investigação cuidada desde as suas origens
modestas, católicas e monárquicas, passando pela sua brilhante carreira
académica, onde ficou conhecido como o «pai» do Direito Administrativo
português, até à sua família e ao amor incondicional pela mulher, Teresa, doente
do foro psiquiátrico que se tornou numa autêntica cobaia nas mãos dos médicos,
e que Marcello acompanhou até aos últimos dias de vida. Aos 67 anos, Marcello
Caetano partiu para o Brasil, o seu destino de exílio. Morreu aos 74, no Rio de
Janeiro, agnóstico e desiludido com a vida e com o país que deixara do outro lado
do Atlântico. Era um homem que tinha perdido definitivamente a fé.