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Estórias de Paz
Quando se fala neste tema, a guerra colonial, os que lá fomos,
somos assaltados como que de um sentimento de medo interior
de criança mal comportada. Trocamos impressões entre nós e
respondemos arrediamente às perguntas dos mais novos, dos
poucos que ainda teimam em tentar saber afinal o que foi aquele
êxodo entre os anos 61 e 74, para Angola, a partir de 63 para a
Guiné e de 64 para Moçambique. A guerra não se explica.
Os políticos que na retaguarda não conseguem diluir as
divergências das palavras, mandam a guerra, com intransigência,
sangrando a juventude numa atitude imponderante que atropela
e espezinha a paz. É o segredo comum que nos une, porque
foram dois anos que viram crescer homens nas crianças que nós
éramos. Porque durante aquele tempo se acumularam vinte ou
mais anos de sofrimento, desespero e penas.
"Luís Pedrosa descreve sem lamechices ou subentendidos a tragédia, mais uma, dum povo. Na primeira pessoa, límpido, cru. Surreal. Sem dúvida surreal. Mas autêntico porque vivido, sofrido e tatuado na alma, no mais profundo do seu ser. Não é uma experiência pessoal, é a expressão cruel duma juventude varrida por uma guerra, pela miséria, pela ganância pelintra dum povo que foi grande em coragem, em inteligência, mas abandonou-se à mediocridade dos perdedores. Sempre perdedores. Nascemos na mesma rua. À beira do mesmo rio. Brincámos na mesma poeira. Vi-o e não o reconheci quando a inclemente doença o ceifou em pouco mais de um mês duma vida marcada a fogo pela guerra, pela mediocridade duma época. Dói a simplicidade com que relata a surrealidade que nos marcou a todos."
Maria João de Sousa Carvalho
Outubro 2020
"Luís Pedrosa descreve sem lamechices ou subentendidos a tragédia, mais uma, dum povo. Na primeira pessoa, límpido, cru. Surreal. Sem dúvida surreal. Mas autêntico porque vivido, sofrido e tatuado na alma, no mais profundo do seu ser. Não é uma experiência pessoal, é a expressão cruel duma juventude varrida por uma guerra, pela miséria, pela ganância pelintra dum povo que foi grande em coragem, em inteligência, mas abandonou-se à mediocridade dos perdedores. Sempre perdedores. Nascemos na mesma rua. À beira do mesmo rio. Brincámos na mesma poeira. Vi-o e não o reconheci quando a inclemente doença o ceifou em pouco mais de um mês duma vida marcada a fogo pela guerra, pela mediocridade duma época. Dói a simplicidade com que relata a surrealidade que nos marcou a todos."
Maria João de Sousa Carvalho
Outubro 2020