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Kétala
"Em nome do respeito pela Mémoria, pela nossa eterna fidelidade à nossa defunta proprietária e em virtude dos poderes que a mim me foram conferidos, declaro aberta a sessão de reconstituição da vida de Mémoria."
Estas palavras proferidas por uma pequena máscara pendurada na parede de um apartamento marcam o início de uma solene acção empreendida por peculiares objectos. Cada um com vincada personalidade e temperamento oscilante tenta traçar oralmente a linha acabada da vida da sua dona durante os dias que o separam do kétala, repartição dos bens do falecido pelos seus familiares na tradição muçulmana. Nestas horas, minutos e segundos minuciosamente contados pelo Relógio, ao tentar resgatar a memória arqueológica que comportam, estas personagens acabam combatendo o seu próprio olvido, epígrafe do romance: "Quando alguém morre, ninguém cuida da tristeza dos seus móveis."