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A Viagem de Traduzir
Uma tradução é uma criação? Porque não partir daqui? Traduzir é uma viagem estranha, da qual podemos não regressar. É evidente que uma tradução não consegue dar o fôlego justo a um texto, abrir as portas do sentido para pronunciar "a frase de depois" - é o sentido do termo grego para tradução - se o tradutor não der provas de uma liberdade interior que é preciso chamar invenção, mesmo se a invenção para um tradutor não consiste em modificar o texto tomado por ele como origem. Estas são algumas das questões levantadas neste conjunto de intervenções (1979-1996), onde se reúnem e se articulam as preocupações do poeta, do tradutor, do helenista, e que constituem em primeiro lugar a relação de uma experiência particular da poesia grega hoje. Mas traduzir não é apenas uma bela proeza técnica, é um modo de ser. Cada poema relembra essa evidência que cega: aqui mora o segredo da escrita. É este que é preciso traduzir. Fechado na sua língua, o seu mutismo fala. E não é por certo apenas um exercício escolar. Por vezes, basta uma palavra grega para tudo recomeçar, um pouco mais atrás, para desmentir a história turva das ditaduras. Tal foi a ambição destes anos. O sol trepa pelos muros das nossas prisões. A oliveira ergue-se por cima de todas as guerras.