Silêncio do Lado de Lá
de Alberto Júlio Silva
Sobre o livro
Terra. Caminhos por onde passava lépido no silêncio do anoitecer de Dezembro. Caminhos do fim do Inverno, desamparados de gente: havia neles um vago susto de mundo abandonado. Todo o ruído se abafava sob camadas de folhas apodrecidas. Todo o sinal de bicho e de pessoa se dissimulara debaixo da lama gélida, da neve. As árvores e as videiras, sem folha, tinham-se reduzido a riscos escuros e desiguais, e a todo o momento poderia surgir naquele desamparo tão grande e silencioso, contraído sob o avanço da noite, um prodígio qualquer que abalasse tudo: um brado enorme pela solidão cinzenta e roxa, um bicho desconforme derrubando paredes de pedra solta com asas de morcego, um susto, sabia lá, que quebrasse aquela solidão de vidro e de eco extinto.
Estranho mundo aquele, em que crescia, rodeado de montes e de pobreza térrea. Que mistério haveria ele de encontrar nos problemas de aritmética que tinha para fazer, à noite?