Se Ainda Me Quiseres, Eu Fico
de Armindo Marinho da Mota
Sobre o livro
Na~o havia luar e o ce´u estava carregado de nuvens negras. A escurida~o era total. Ouvia-se um leve murmu´rio da brisa que corria la´ fora, e o rumorejar das a´rvores batidas pelo vento. Ao longe, no terminal de cruzeiros de Leixo~es, um barco produzia um sinal sonoro, porventura a assinalar a sua presenc¸a no cais. Na~o tardaria e as nuvens cumpririam a ameac¸a de que, quando menos se esperasse, descarregariam sobre a terra a imensida~o de a´gua que acumulavam nas suas entranhas, adivinhando-se, por conseque^ncia, uma noite impro´pria para se estar fora de casa. Ine^s na~o se importou com isso. A sua cabec¸a estava ocupada com um so´ pensa- mento: tenho de o encontrar. Custe o que custar, tenho de o encontrar.
E, a espac¸os, a sua memo´ria reportava-lhe as palavras que, vezes sem conta, ouvira da boca do Pedro: "so´ se vive uma vez, minha querida; so´ se vive uma vez". Era a re´stia de motivac¸a~o que lhe faltava. Vestiu o seu casaco acol- choado, impermea´vel, com capuz, enrolou um cachecol a` volta do pescoc¸o, calc¸ou botas, forradas com pele de carnei- ro, desceu as escadas do pre´dio que habita, saiu para a rua e apanhou o primeiro ta´xi que apareceu.
- Para a Avenida da Boavista, por favor - disse ao taxista, ainda emocionada e com dificuldade em conter os soluc¸os que a tomaram de assalto.