Querido Futuro Eu
de Catarina Reis
Sobre o livro
"Corro para o meu quarto. Abro uma frecha da janela e começo a contar para mim "dois, cinco, sete, três". Repito a ordem dos números, com o intuito de me acalmar, vezes sem conta. Deito-me no chão, gelado, mas a minha respiração está tão acelerada que acabo por reparar que estou a suar. Sinto o meu corpo tenso. A boca seca e o enorme nó que se cria na minha garganta retiram-me qualquer esperança existente em retomar o meu estado aparentemente normal. Todo o meu corpo treme. O coração bombeia o sangue a uma velocidade quase demasiado rápida para ser humanamente possível. Ansiedade - digo eu. Apercebo-me então que as minhas cordas vocais decidiram pregar-me uma partida e que não exprimo o mais ínfimo som. Sinto um enjoo enorme e sei que vou vomitar. Levanto-me na tentativa de chegar à casa de banho, num passo acelerado, mas uma tontura invade-me o corpo e sinto-me a perder a visão. Ao longe ouço a minha família conversar, desconhecendo o meu estado atual. Seguro-me nas paredes e tento voltar para o meu quarto. A sensação de enjoo passou. Sinto agora dores no peito, falta de ar e falta-me o controlo do próprio corpo. Começo a chorar, num nervosismo sem igual, não conseguindo evitar as minhas próprias ações. Perco as forças e caio. E é nesse momento que tudo apaga."