Os Dias Banais
de Jorge Coimbra
Sobre o livro
Estes são os dias banais. São os dias — todos os dias — da vida de qualquer um de nós que vive numa sociedade egoísta e desumanizada. E porque eles, os dias, são muitos e sempre iguais, já tudo se banalizou e o que se vive ou acontece no decurso da existência é pura e simplesmente invisível, de tão trivial que se tornou esta forma de estar, esta indiferença, este hábito de olhar para o lado e assobiar. Estamos todos cegos? Sim, estamos todos cegos de tanto ver. O que interessa para os outros se um deficiente motor cai num autocarro, senão o impulso de dar um berro: Olha, o manco caiu!? Que interessa, para quem almoça, que qualquer outro perca o seu dia de trabalho, se para o evitar será perturbada a sua digestão ou o último gole do café com cheirinho? No centro de tudo está o eu. O outro é qualquer coisa vaga, sem nome nem história, e que, de alguma forma, pode desestabilizar. Não convém ver para evitar incómodos. E vai-se fazendo de conta que não aconteceu nada. Também, nesta sociedade, tudo e todos — todas as vidas — são medidos pela produtividade, pela regra estúpida, cega e monótona, pela medida do tempo e do correspondente rendimento de cada indivíduo. As pessoas têm apenas valor de uso e são depressa descartadas. Tudo é trivial. O dia a dia, as rotinas são corriqueiras, feitas mecanicamente e quase sem que se dê por isso. Não há hipótese nem é desejável a existência de empenho afetivo. Em suma, estes são os dias.