Ontem
de Agota Kristof
Sobre o livro
A forma de escrita minuciosa, depurada e ao mesmo tempo profunda e imagética de Kristof faz recordar o estilo de M. Duras. As suas frases parecem conter o exacto número de palavras; não se poderia riscar ou acrescentar uma virgula sem desequilibrar todo conjunto. As suas personagens evoluem em espaços e tempos não identificados, apenas sobressaindo a enorme violência da sua vida. "Ontem" (Hier) é talvez o mais poético dos seus romances.
Desde que Sandor Lester fugiu do seu país natal para se tornar escritor que sonha com o regresso de Line, personagem da sua infância e amor idealizado, talvez mesmo imaginário...
"Ela diz:
Também eu, tenho vontade de escrever. Quando regressar ao país e Violette for para a escola, escreverei.
Que escreverás tu?
Não sei. Talvez a história de um grande amor impossível.
Porque é que esse amor seria impossível?
Line ri:
Não sei. Ainda não comecei.
O teu livro será falso.
Tu não o podes saber.
Sim, sei-o. Visto que não conheces tudo. Tu nunca poderás escrever a nossa história.
Porque nós temos uma história?"
Com simplicidade e precisão, Agota Kristof reflecte sobre a passagem do tempo e a realidade do mundo contemporâneo e renova o seu interesse pelo tema da identidade.
Rui Lagartinho, in DNA / Diário de Noticías