Olívia
de Catarina de Magalhâes
Sobre o livro
Incapaz de chegar aos pedais, apalpou, agonizada, o volante que também se desfez no éter. As quatro rodas ganhavam balanço com o peso do carro que seguia voluntariamente em direção a uma ponte de altura vertiginosa. Pouco oxigénio restava a alimentar-lhe o cérebro e o coração batia de susto, enquanto o corpo se contorcia em busca de uma solução. À entrada da ponte, onde se desenhava uma ligeira curva, o carro rompeu pela proteção da estrada e entrou em queda livre, multiplicando os pensamentos de terror provocados pelo encarceramento e sofrimento iminentes. Através dos vidros do carro, embaciados pelo nevoeiro e chuviscos, contemplou o horror das águas profundas e escuras que a esperavam. O carro bateu com estrondo no rio agitado e afogou-a de medo. Silêncio e solidão.