Sobre o livro
George Laschen, repórter, deixa Hamburgo, acompanhado do fotógrafo Hoffman, enviado em missão ao Líbano por ocasião dos primeiros combates em Beirute num momento de crise larvar da sua relação conjugal. Chegado aí, inicia o seu trabalho de reportagem mas, quanto mais se esforça por agarrar a "realidade" dos acontecimentos, menos palpável ela lhe surge. Ora insuportável na omnipresença súbita da violência, da morte e da destruição, ora evanescente no halo que nimba de reflexos luminosos uma cidade-caravansará, a realidade esquiva-se até às tentativas de a fixar nas malhas do texto aparentemente mais neutro, o dos comunicados.
Laschen encontra uma jovem, alemã como ele, a qual decidiu integrar-se totalmente na vida libanesa adoptando inclusive uma criança que ela própria salvara da hecatombe geral. Mas continuará a sentir-se excluído. Tal como Mersault, é um estrangeiro, pelo que as bodas com a realidade virão a custar um crime.
A trama arrasta-nos por uma espécie de travessia de infernos sem fim, ainda mais perturbadora pois que a guerra parece assumir uma banalidade tal que a sua evidência apenas faz ressaltar a decomposição e o mau estar dos "paraísos" que ela própria torna ilusórios. O vaguear de Laschen é como que a parábola de um mundo alienado na procura de uma eficácia cuja ausência de objectivos o leva a perder a pista a toda a verdade.
Um romance excepcional... Na sua intensidade intelectual e invulgar em evidência poética. O Falsário é, malgrado a topografia de Beirute e do Líbano nos serem dados com exactidão isenta de pedantismo professoral, um romance sobre a Alemanha. Explica-nos a decadência alemã - como um esforço magnífico para atingir o equilíbrio - e também a sua frigidez. Oxalá seja de facto lido e não receitado.
Michael Krüger - Die Zeit